sábado, 26 de dezembro de 2015

Da fragilidade e da essência





No filme Kundun, durante a visita de políticos camuflados de negociantes íntegros e comprometidos, enviados da China para conversar com o Dalai Lama (atual) - com pouco mais de dez anos – antes da deflagração da série de crimes que até hoje são praticados por conta da invasão do Tibete, o menino, Verdadeiro Avatar, dono de pureza impar, tenta alertá-los - talvez sem a dimensão exata da sordidez de um grupo muito aquém da diplomacia: “não confundam nossa fragilidade com fraqueza”.

Para qualquer um que não participe da filosofia da doutrina Zen Budista, devido a sua sutilidade e uma série de particularidades singularíssimas, é bastante difícil compreender o significado destas palavras, mesmo familiarizado ao contexto em que elas foram ditas. Porém, ainda hoje, após as atrocidades da China naquele minúsculo país, a força do Tibete no que se refere a espiritualidade, supera enormemente o que todos, a boca cheia, tratam como “gigante chinês”.

Apenas por um motivo volto a esse assunto; diante da repulsa do ocorrido, entendo como uma espécie de correção, a atenção de registrá-lo, devido a minha gana pessoal contra esse acontecimento político dos mais vergonhosos da nossa era, e, ainda que sem intenção externa alguma, tenho como prática, firmar meus pensamentos, e então poder observá-los ainda íntegros. E é difícil explicar porque há um sentimento bom aqui; ao verificar que continuo firme na opinião contrária em relação aos assassínios cometidos durante essa invasão, no que prefiro denominar como: “monstruosidade chinesa”; cujo gigantismo nem tanto o é quando observado sob o prisma da covardia desse país inescrupuloso.

Voltei a essa página negra da demonstração de o quanto podemos cometer atrocidades e continuar figurando como exemplos, para chegar ao humano individual; quando é nossa fragilidade que está em jogo ao ficar a mercê dos gigantes a que obrigatoriamente somos expostos quando todos os veem como exemplos, e o quanto o frágil continua com a pecha de “loser”.

O mundo é feito de “fortes” e “fracos”, e não quero chamar atenção aqui dos “fortes”, esses o mundo todo acolhe como “vencedores” e preferidos - estes estão conformados, ou melhor, quanto a isso todos estão conformados.

Antes, gostaria de mandar um recado aos “fracos”.

Para que percebessem a força de suas fragilidades. Que, não fizessem qual velho que se enche de cremes, tinturas e químicas para ridiculamente camuflar a beleza, muitas vezes sã, da velhice. Nada. Busco aqui acordá-los para a força de suas fraquezas, a beleza do gentil, a sutilizada do suave, a – hoje - raridade do verdadeiramente educado, a sensibilidade do frágil, lembrando que a alma; o espírito, não carrega diferença de tamanho. Uma ginasta de pouco mais de um metro, possui uma alma tão igual ao brutamontes que ainda vê vantagem em ser aclamado por levantar quatrocentos quilos – não desmerecendo o esporte ou aqueles que escolheram o levantamento de peso como meta de superação; me refiro aqui ao indivíduo que não aprendeu a filosofia do esporte e o pratica apenas por exibicionismo.

Por quanto tempo ainda os verei fragilizados e acuados na vergonha de não serem reconhecidos por pessoas que não os enxergam, por apenas o fazer a si próprios ou ao que aprenderam com um sistema que premia apenas o “são”, quando são eles que continuam praticando insanidades ao relegar quem não pensa igual, não digno de créditos?

Portanto, senhores, homens de sentimento, não cometam os mesmos erros dos conformados. Muito menos aceitem ou acolham participar de seus joguinhos (dis)simulados. Não se apoiem no orgulho projetado por mentes perturbadas que se mimetizaram com o mecanismo acomodado do processo e então, de posse da pretensão voraz e destruidora, abandonam o entendimento da superlatividade da diferença sempre algo propício/positiva, trocando-a por uma segurança que mente a si próprio ao invés de manter-se em equilíbrio com a nata pureza, símbolo maior dos verdadeiros exemplos que o tempo tanto insiste em provas de que a natureza continuará durante bom tempo superando o homem em sabedoria.




                             Frágil

A fragilidade intocada 
Supera a força bruta 
A matéria sufoca sentimentos
O invisível os exalta

                              Sutil

A fragilidade é invisível
A brutalidade é palpável
A sensibilidade rompe barreiras
A força nem as enxerga

                                                                   Pureza

Enquanto a força é mero instrumento de matéria combinada
Manuseada por mentes que ignoram o que não veem
A nata pureza é sã
Filha da natureza mãe

                                                                    Eterno

A mãe protetora
Apenas se utiliza da força
Mas apoiar-se-á sempre
No Eterno Sensível


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