sábado, 2 de março de 2019

“Tudo é verdade”


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Quase ao final do livro, 21 lições para o século 21, Yuval como sempre é bastante assertivo ao abordar a mentira que nos acompanha ao longo da história; fazendo uma relação com o que entendemos agora como Pós Verdade ou Fake News. Faz uma comparação as nossas velhas conhecidas – em algum instante já abordado neste espaço: mentiras previamente arquitetadas ou trabalhadas convenientemente ao longo dos séculos e obrigatoriamente sustentadas para o bem da humanidade no quesito sociedade e, de quebra, o bem viver de alguns poucos que se mantêm abastados com o único propósito de mantê-las ativas. Que profissão! Viver uma vida de sobras, - de opulência – enquanto mantém mentiras como verdade para aqueles que vivem das sobras (observações nossas).

O autor de “Sapiens”, tanto quanto nós; concorda que as mentiras precisaram existir para construir uma narrativa humana minimamente aceitável - política, corporações, religião, cooperativas, e mais recentemente, famílias.

Ousamos apontar neste espaço, que mentira e verdade devem ser classificadas também na mesma ordem das seculares discussões genealogicamente filosóficas do bem e mal.

Estes dois últimos caminham emparelhados há milênios fazendo parte de congressos e conselhos; avolumando repartições com as mais aborrecidas teses, sufocando escaninhos de instituições como livrarias, bibliotecas públicas e particulares; universitárias ou religiosas – algumas não acessíveis a qualquer um – na sua maioria: rodando em círculos de inépcia e interesses frívolos, no mais das vezes, apontando o narcisismo comum e sempre impróprio presente na porcentagem maior de seus agentes.

Podemos, ou até onde podemos afirmar ou inferir que as determinações, as narrativas, os algoritmos acurados como mentira são dignos de atenção maior, diria até, orbitarem em um universo de responsabilidade social tão importante quanto à verdade; e, definitivamente: não sendo apontada somente como objeto de discussão onde a tratemos categoricamente como nociva ou ruim!?!

E, se ultrapassarmos as regras da dita sanidade social para falar em respeito à devida, ou seria obrigatória, importância universal da ficção, devemos prestar infindáveis reverências a esta inseparável companheira, afinal é muito mais fácil que todo o humano suporte o existir muito mais sob os pilares da dubiedade do que certezas sobre seu existir.

Estamos tão envolvidos com enredos e ficções lendárias, falhas e falsas, que podemos afirmar que aprendemos a suportar com muito mais simpatia a mentira que a verdade. Isto, logicamente, não é um mal; até por que mal e bom estão na mesma condição. Mas era preciso aguçar a busca por conhecimento para ao menos saber que em algum instante este entendimento é necessário.  

O campo é vasto e do ponto de vista técnico é perfeitamente possível – dispomos de técnicas inteligentemente eficazes a nos mostrar a verdade através da ficção. No entanto o ponto alto a discussão é a ética, aqui, obrigatoriamente precisamos entender ou aventar para o fato de que, sem abrir esta Caixa de Pandora, sem o enfrentamento desta questão, não sairemos do vórtice humano em que nos colocamos enclausurados e assim permaneceremos, ainda e até o despertar para novas leituras e apreender sobre a importância e a necessidade do enredo.

A mentira é uma cola, uma liga. O amalgama que sustém pessoas presas em situações cômodas ao ser humano comum que entende, percebe, acredita na necessidade de manter o equilíbrio de seu grupo, de seu estado social. Sem ela isto não é possível. Esta é uma mentira que poderíamos apontar como ética, uma espécie de mentira construtiva, aquela que suporta os mitos que aglutinam pessoas socialmente, ou melhor, arrebanham construtivamente indivíduos e comunidades próximas de uma vontade sã, cordial e objetiva, e isto assim precisa ser por conta da disparidade humana.

Já o que podemos chamar de mentira não ética é a do engodo orquestrado. Do aproveitar-se da credulidade alheia baseada na inépcia, na laicidade e na escusa falta de conhecimento. No enganar com propósitos em benefício próprio, antissociais, com requinte de ganância, de posses, de sobressair-se além de todos aqueles que foram ludibriados.

O embuste com o qual procura obstinadamente o mentiroso separar-se do lugar comum por conta da mesquinhes recalcada do espírito embrutecido que se autodenominando superior acaba por macular com esta atitude reles a essência do existir humano; aí sim, há o ardil nocivo. 

A partir daqui, ou seja, deste pensamento; a mentira não pode ser taxada sempre como um mal, nem mesmo como um mal necessário. Aqui ela é elencada a uma condição normal da nossa sobrevivência e mais, da evolução do homem que busca o conhecimento.
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Detalhe do exercício de 24/02/2019
“Tudo é verdade”




"Não existe essa coisa chamada sociedade. Há [uma] trama viva feita de homens e mulheres... e a qualidade de nossa vida dependerá de quanto cada um de nós está preparado para assumir a responsabilidade por si mesmo".

Margaret Thatcher
No livro 21 lições para o século 21
de Yuval Noah Harari

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