sábado, 12 de junho de 2021

Roubaram também nosso Espírito

 



Até onde aconteceu conosco o mesmo que se deu com os escravos alforriados, que de um dia para outro a situação de cativos desgraçados pareceu inverter-se por conta daqueles que continuamos saudando como heróis por lhes concederem o que muitos ainda hoje consideram liberdade. Jogados às ruas a perambular no limbo do ostracismo, abandonados e mendigando atenção, cuidados, colocação, até serem “contratados”; quando aqueles que se passaram por benfeitores abolicionistas deveriam ter feito o serviço completo que era devolvê-los, ao menos um contingente possível, para suas terras de origem a retomar um mínimo de vida digna entre os seus de onde quer que tenham sido sequestrados.




Também nós quando a última leva de europeus resolveu abandonar está colônia, tão pouco sabíamos que deixaram o germe da vontade mais forte que lhes pulsa nas veias: a gana pelo material; do materialismo. Do apossar-se de assalto. Tornamo-nos também materialistas e posseiros oportunistas. Ainda que a miscigenação, pós invasão, tenha se dado de cem para um, nosso território deu farta mostra de que não precisaria ser explorado, ou continuar sendo explorado a exaustão. Possuíamos cofres a céu aberto; reservas naturais e terras agricultáveis para manter a população abastada ainda que os europeus tivessem espoliado sem dó nem piedade muitos de nossos recursos mais a mão, mais fáceis de serem carregados.




Contudo a compulsão da posse, do engodo, do ser biltre, da vontade mesquinha, da vilania ensandecida substituiu, tomou lugar de qualquer pensamento coletivo de união espiritual natural que ocorria entre os povos indígenas originais, mesmo que somado a visceral carga mística da magnífica Cultura Afro, comum aos escravos.




Nosso Espírito foi roubado. Os europeus apagaram nosso Espírito e nós, descuidados também aqui, nada fizemos, preferimos a brutalidade, a destruição, a agressão a todo o processo que não visasse a posse assumindo também o legado mais vil que os malditos colonizadores poderiam ter disseminado entre os colonizados; seu desprezo pelo imaterial.




E nada fizemos para despertar dessa admiração, desta Síndrome de Estocolmo, para consertar ou amenizar uma falha patente que tanto mal continua a nos acometer e indiscutivelmente vem se ampliando geração após geração.




Espiritualistas negacionistas - Com um salto no tempo é possível asseverar que tivemos uma nova chance com o espiritismo de Allan Kardec, que justamente nasceu na Europa, porém é fato que naquele continente não prosperaria; como isso poderia se dar? Um ambiente totalmente materializado, marmorizado, refratário e quase hostil ao que é sensível e estéril ao que é essencial!?! Ele nos foi dado de mão beijada, diria até que foi uma espécie de paga sob os olhares de um Plano Espiritual infalível. Um último alento, e a tempo; do universo ao povo do território mais rico e maravilhoso do planeta. Nós tínhamos a chama, ela apenas estava apagada, mas ainda assim era tarde demais.




Tupi Guarani - Yorubá - Espiritismo - Mesmo com o tripé espiritual das Forças das Matas, da portentosa Cultura Afro e do Espiritismo propriamente dito, agora manifesto após o trabalho inquestionável do francês; não podemos negar que a sanha material, a ganância europeia indubitavelmente executou um ótimo trabalho fazendo mais uma vítima; vítima essa que, já no século XIX poderia ter se rebelado e ao menos equilibrar a questão. Ainda havia tempo; mas não aconteceu.




Quanto o Universo Espiritual está para nós como Cristo está para os Judeus?

Assim como eles negam o Messias, nós praticamos atos renegando veementemente o Mundo Espiritual.




E todos não fazem isso também? Sim; porém nós, ou somente nós tivemos a oportunidade de rever nossos conceitos muito mais próximo do estado que conformamos como civilidade. A China, o Egito Antigo, o Japão, a Europa ou o Velho Mundo com os inigualáveis deuses Vikings, Gregos, Romanos e ainda as américas com os Maias, Astecas e Incas por exemplo, as Forças Ocultas irromperam em meio a uma gama de homens ainda bastante incivilizados que entenderam errado, fizeram mau uso das manifestações por não atingirem o discernimento do conceito de Unicidade Univérsica; de Mente Única.




Nossa situação mundial, por conta destas ocorrências, se consome em um vórtice ainda mais nefasto, afinal mesmo tendo a possibilidade de conhecer, assimilar e se apossar de toda uma carga espiritual a que fomos expostos até então, preferimos virar as costas para todas as verdades que elegem o homem como um ser especial e detentor de Espírito, de Alma e, portanto, privilegiado com a Vida Eterna.




Como se tivéssemos sido acometidos por uma maldição; hoje vegetamos em um limbo universal, nem prosperamos materialmente, demonstrando que o germe europeu da cobiça vingou, e muito menos somos dignos de receber as honras de um povo espiritualmente evoluído.




Nossa diferença e privilégio em relação a esta gama de ocorrências ao longo de ao menos três mil anos antes de Cristo reside no fato de que o Brasil já estava delimitado e os ladrões tidos como desbravadores, ou bandeirantes, ou colonizadores, ainda que deixaram tenebrosos liames; essas raízes miseráveis não tinham forças suficiente para continuar a sua dominação. E o mais importante: éramos riquíssimos. Poderíamos ter virado o jogo. Seus tentáculos de conquistadores sórdidos eram frágeis quando tivemos acesso a um mundo espiritual diferente do católico. Tivemos a oportunidade não de deuses como todos os outros, mas algo de igual importância: as pesquisas de Kardec que nos apontavam uma direção ao pós-carne, ao pós-corpo, e a máxima inegável: “fora da caridade não há salvação”; então, finalmente e como um milagre, uma Flor de Lótus que nasce do lodo; tivemos uma última e única conjunção: o Nosso Apóstolo, o Nosso Profeta; exclusivo. Chico Xavier. Porém o que fizemos? Negamo-lo. Negamos a última chance de avivar em cada um de nós a chama do Plano Espiritual. 


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