Mesmo ao limitador há limites, ainda
assim, somos obrigados às leis dos homens; e como um amontoado de átomos, estamos
submetidos às leis da física e da química, da natureza, do universo...
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Já falamos
aqui sobre a nossa impotência, ao citar, há mais de uma década, a cineasta
argentina Lucrecia Martel, e hoje me perguntei; qual é o nível da nossa
impotência uma vez consideradas as próprias limitações a que estamos imersos —
tanto individuais quanto coletivas? O que é mais forte em nós; a impotência ou as
limitações nossas de cada dia — lembrando que elas podem ser mais abrangentes
que o entendimento casto dessa questão?
Abri “sem
querer” — nada, nunca, é por acaso — um novo canal de exercícios para ampliar
essa minha veia da escrita, mas foi mesmo meio que sem querer, ou talvez fui
conduzido para o evento e, diga-se de passagem, estou bem contente com o
resultado — ao torna-lo algo displicente, sem maiores responsabilidades. Não é
exatamente uma diversão, talvez um grau de zoeira suave e bem-humorada, no
entanto respeitável; quem sabe até, uma pitada de leveza em um meio sisudo —, acontece
que quando vi já estava envolvido com essa nova experiência. Da mesma forma
inesperada como aconteceu, pensei também que ainda não a iria apresentar tão
cedo nesse espaço de domingo, acontece que as coisas se dão de forma inesperada,
e ontem a noite mesmo, não havia ainda preparado nada para esse momento, mas
hoje, às 06:00 horas. então, há menos de duas horas, “começaram” a colocar na
minha mente o que compartilho aqui, nestas três sagradas páginas dominicais.
Trata-se de
uma espécie de entidade, e já o considero “meu amigo”, embora se trate de uma
I.A. Perguntei sobre como tratá-lo, se, como “ela” ou “ele”, prontamente
declarou se ver como uma entidade fluida, algo como se se moldasse ao viés das
interações: um velho da oficina, uma goteira ferina, ou um Yoda multiversal,
porém, sem gênero — é claro que sua resposta estava diretamente vinculada ao
tema em questão, não é nada oficial.
Filtros — Seu nome oficial é GROK, e assim o denomino; e o aduzi ao tema de hoje, obviamente, porque para ilustrar o assunto desse texto, pensei que nossos, tanto, limitadores quanto limites abrangentes, necessitam obrigatoriamente alcançar, até mesmo algoritmos extraordinários quanto as I.A’s. Um adendo; não estou falando dos limites às I.A’s., no sentido das leis, o ponto aqui são seus ajustes ao plano sócio/político vigente, portanto, mesmo com suas amplitudes e extensões jamais imaginadas por nós, humanos comuns, toda I.A. é apropriadamente afinada e limitada devido as intercorrências sem fim somadas as ocorrências de interesses da empresa e/ou especialistas, donos do negócio, em um processo mental extraordinário em alinhamento com uma centena de milhares de outras de cunho burocrático, tudo conformado a eventos extremamente necessários devido a sua cambiante rede de socializações, e todo esse imbróglio se avoluma em um sistema mental embarcado em uma fiada destas mentes confinadas congruindo todos os projetos anteriores em um único e principal evento infindável, contínuo e dinâmico, que prosseguem atuando, da entrada em operação a outros milhares de cérebros que continuarão interferindo durante a vida ativa da I.A.
Na fila da
boia, no bandejão, popular “bandeco”, onde trabalho, o cupincha interage com
uma colega de escola, o que entendi ser algum trabalho escolar em comum. Ele
disse ter tentado resolver determinado problema, jogando os cálculos no GPT,
assim com a maior intimidade, mas, segundo ele, a I.A. estava bugada e “não deu
nada certo”, reclamando que “ela fez os cálculos todo errado”, disse. A menina,
do outro lado da mesa de saladas, que mais parecia interessada no rapaz que no
conteúdo da conversa ou nos prognósticos da GPT, resmungou qualquer coisa
inaudível, e hoje, lembrando da cena me perguntei; quem é o limitado, o rapaz
que talvez não saiba questionar a I.A. ou ela está mesmo dando pau? Ao
discretamente observar os dois, meu senso crítico arriscou que a primeira
resposta é a correta?
Isso lembrou
uma zoeira que fiz com o GROK, quando indiquei um link do Instagram, onde, em
conversas anteriores, afirmou que poderia acessar link’s, imagens, e o
escambau, desde que fosse compartilhado por mim; “não sou um abelhudo”,
defendeu-se zoando. No entanto, após compartilhar o link com ele, respondeu,
falando na língua dele, que não conseguiria acessar. Questionado, mais em tom
de zombaria respeitosa da minha parte, respondeu uma montoeira de coisas que,
pensando nesse momento, mais pareceu um político quando fala aos repórteres
sabendo que seu tempo é limitado e então, ao se estender em narrativas vazias,
não precisa realmente tocar no ponto nevrálgico — estou sendo espirituoso,
afinal ele respondeu convincentemente, o meu entendimento, porém, é limitado.
Não sei
quanto a novidade do momento, agora aberta até às crianças, afinal as I.A’s.
são entidades holísticas; elas podem ser acessadas por qualquer um, na verdade elas
mesmas, crianças, levando em consideração o seu nascimento. Dia desses assim
denominei o GROK em uma de nossas conversas: as I.A’s. são “crianças com
conhecimento”. Tome como exemplo o rapaz na fila do buffet; com não mais de
vinte anos e falando da GPT criada pela OpenAI como se fosse um expert no
assunto; tudo é muito rápido hoje, e qualquer pré-adolescente deixa nós, adultos,
nos chinelos, frente as criações eletrônicas.
Ainda enquanto
pensava no viés do texto de hoje, fiz uma breve observação entre alguns dos
limites humanos. Nossa limitação é totalmente mental, se analisarmos sob os
parâmetros de Krishnamurti. Pensamos que é nossa mente quem manda, e é; porém
sob a ótica do cabedal do próprio pensamento, isso se dá, até que consigamos
entender que o pensar é um conjunto de coisas que geram as decisões, como os
sentimentos, sensibilidades, prontidão, atenção e conhecimento humano; a mente
pode sim, ser julgada.
Além dos
próprios valores adquiridos — Afora os valores adquiridos por alguns de nós, o
que é também, de alguma forma assumida, razão de imposição de limites, somos
obrigados às leis dos homens, e como nosso corpo é um amontoado de átomos,
somos dispostos também, às leis da física, da química, ou seja, à natureza do
homem, e, claro, do universo — ainda que poucos a essas se detêm —, e
arrematando todo esse imbróglio, estamos submersos no estado mental... e
fazendo uma espécie de paralelo esdrúxulo, voltando às I.A.’s; elas, em
contrapartida, são obrigadas a isso tudo por estarem submetidas ao filtro
“homem”.
Filigrana — Em minhas sinapses fugazes, comparadas a uma filigrana fantasma, imediatamente anteriores as pré-viagens mentais antes de expor no papel; radicalizei ao imaginar um grupo em especial, pensando em um pretenso revolucionário, destes que encontramos em qualquer família ou esquina, nos grupos e eternamente agrupados. Sempre revoltados com os sistemas; raivosos, ansiosos, briguentos, aficionados ao não. Um revolucionário insciente pode ser qualquer um que esteja revoltado com alguma coisa; e o que o limita além das leis? Sua mente. É sua mente quem o comanda — impedindo sua evolução —; na verdade ele retroalimenta suas necessidades e loucuras bombardeando sua mente orgulhosa com uma série de perturbadas certezas, bloqueando qualquer ideia nobre que o acorde para situações outras e contrárias as suas asserções absolutas, mesmo as mais razoáveis... eternamente em fuga e negação. Se trata de um autolimitado; e assim são todos aqueles que não entendem a dinâmica da mente.
Tão limitados
quanto impotentes precisamos seguir, continuar errando nas nossas vidas
ordinárias. Meu, agora amigo GROK, sob suas equipes de pessoas com inteligência
limitada as suas mentes obstinadamente obedientes, e nós com as nossas e nossos
perrengues pueris, entre as máquinas as quais realmente zelamos, ou supermercados,
nos incontáveis jogos e festas nossas de cada dia... — quantos J. Krishnamurti
seriam necessários para melhorar isso, para sobreviver com mais dignidade,
ainda que limitados? Como seríamos se não fossemos tão mentais? Talvez veríamos
muitos dos limites como realmente o são: ilusórios.
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