domingo, 16 de fevereiro de 2014

Transeuntes transitórios



Eles passam por mim. Ou passo por eles nos balcões, nos caixas ou nos bancos debruçados. Alguns com um livro preto embaixo do braço outros não. Vejo-os carregando algum compendio qualquer, com ou sem mochilas; outros jogam dominó, e a vida é uma luta diária.

Cultuam o corpo, mexem nos cabelos, cofiam a barba, olham-se no espelho ou qualquer coisa que os reflitam - muitas vezes é somente este significado que dão para o termo “refletir”; e amam, geralmente: condicionalmente.

Conferem o interior da vitrine, compram, pagam, devem, endividam-se e roubam; se martirizam e prometem mudar. Fiéis ou infiéis, casam, abandonam, formam o que entendem por família e ainda que despreparados, em algumas situações acertam; apanham muito e lutam bastante.

Trabalham, enganam, viajam, pesquisam e distribuem prêmios entre si. Descobrem coisas, aprendem o que lhes é útil e o que não é; e ainda assim continuam lutando.  

Divertem-se; com paixão: vibram em frente à televisão, ouvem os mais diversos tipos de música, vão a shows e aos estádios ou participam em grupos de manifestações, e lutam e convencem-se de que adquiriram mais direitos; comemoram migalhas.

        Estudantes, esportistas ou donas de casa. Empregadas. Eles, elas e os outros; bancários, banqueiros e industriais: inconscientes de suas inconsciências percorrem diariamente o limbo do cotidiano da luta que não cessa; que os mantém vivos e sentido-se parte de algo que ainda não foi decifrado pra que serve realmente.

Guerreiam, declaram paz, se armam, se odeiam, confundem as coisas, acreditam, votam, leem jornais, se unem e lutam.

Nas sinagogas, nas igrejas, nos templos ou mesquitas, somados aos respectivos vigários, praticam o que entendem por fé - alguns o fazem realmente. Cada qual a seu modo acredita no que entendeu até então ser correto, todos são livres, é fato; e é justamente por poderem exercer esta liberdade que são presos no emaranhado daqueles que a temem, ou do medo de sê-lo.

Todo o processo é uma luta contínua, não há descanso. Alguns menos abastados invejam aqueles que adquiriram posses. Outros que não podem parar; se pudessem observar, o faria de onde está, pois a vida privilegiou-o com parte do poder; aos dois sobrou apenas a luta que mata aos poucos por quase nada.

Enquanto passam os observo; toda esta luta não é em vão, mas quanto economiza, quanto desgaste evita aquele que busca realmente entender o objetivo disso tudo.

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