sábado, 31 de outubro de 2015

Alinhamento; conjunção - Tentando materializar o Invisível



O ataque de um pensamento digno de registro, invariavelmente, não se estende além de um fragmento; nada superior a um flash. E assemelha-se ao momento único; o instante em que o artista vislumbra matizes possíveis, disponível apenas sob precisa luz momentânea - o milagre que se mostra apenas ao que percebe... ao que persegue. Perfeita. E, como captá-la? Como é possível captar a transitoriedade; toda a natureza representada na força concentrada da volatilidade – a beleza que se dá no efêmero. Toda a energia da fugacidade possível de ser representada num agora está passando, imperceptível; o poder do movimento que não se pode cessar; que esforço algum domina o que quer que seja que a movimente; que faz pensar: se há o igual oposto, onde se esconde o colosso com tal poder?

Ele, amante de todos os homens, quer doar este instante à vida, dar à luz essa luz – matar a luz; prendê-la, somente assim poderá repassar o milagre.
Desesperado, procura vencer o atropelo da oportunidade, invariavelmente, precisando sufocar o êxtase e esquecer-se totalmente de saborear o momento – para ser de todos ele não pode ser seu.

Desvairado – estágio comum àqueles que contemplam o êxtase - pincela um esboço indiviso, - não explicável; indecifrável ao sempre atropelado alheio - com a rapidez de um possuído. Com movimentos insanos observa a gradação sutil que busca captar se desfazendo diante de sua mistura alucinada que, a sua maneira, eternizará o flagrante, para então, mais tarde finalizar a obra, preenchendo os espaços vazios com os resquícios do rescaldo de lembranças do vislumbre, somando agora ao que conhece da arte – hora do desânimo; quantos aqui enlouquecem.

Aqui, procurei materializar a ideia do meu proceder com os bons pensamentos, com as boas intuições: entendo esse processo como se uma janela se abrisse – um momento incomum, um alinhamento difícil e raro de ser computado – em determinado – tão alheio quanto exíguo - instante, deixando a mostra uma ideia nova ou no mais das vezes: uma forma nova de ver uma observação existente que, uma vez captada, em um lapso, através do registro, uma porção coerente daquele universo não mensurável é às pressas rabiscada no intuito de “prendê-la”, pois, por pertencer a um estado alheio, na forma que se dá, foge a compreensão do “autor” a estranha, - singular, diversa, original - formatação empregada – porém pronta – para mais tarde torná-la pública, quase sempre com a intervenção do autor-instrumento - seria um desafio, se não fosse impossível, trazer isso a uma realidade comum a todos; ainda que aqui tenha tentado.

...não é fácil traduzir o pensado.


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