sábado, 16 de abril de 2016

Os novos crucificadores







São olhos sem vida, porém ávidos; não se sabe se um dia possuíram luz. A que os ilumina hoje é artificial e emprestada das telas digitais. Seus olhos faíscam ao refletir a ilusão prometida. Avaros reais, já aos primeiros toques buscam o terceiro desavisado que se deixou cair nas garras desses zumbis eletrônicos. As vítimas: aqueles que “erram”, que defendem uma posição contrária ao miseravelmente descaracterizado corpo de jurados, enfim, incautos que inadvertidamente pensavam encontrar ali o consolo que as sempre, ainda que em realidade, estranhas frases feitas inseridas na automaticidade do gesto rápido, desprovidas sempre de sentimento verdadeiro algum, pregaram-lhe uma peça quando agora, finalmente, foram entendidas da pior forma possível: não passar da mesma farsa inseparável, arraigada, aos falsos defensores.

Movidos a factoides (informações fragmentadas e incompletas) somado as suas análises de comedores de fast-foods, lançam mão de opiniões baseadas na netética (ética não oficializada, formada apenas por opiniões rasas da rede, porém que é entendido como passível de validação) e então decretam a sentença do “acusado” da vez, crucificando-o; calçados apenas em opiniões da choldra ensandecida que pouco ou nada sabe realmente a respeito de nada, por não saberem nada da vida e muito menos sobre a situação em si; o fazem por prazer e por nada melhor terem a fazer.

Crucificam, sem direito a apelação. Donos do pedaço; movimentam-se alternando ora entre os papéis de juízes, juris ou promotores. Tudo o que o desavisado falar (postar na rede), será deturpado e usado contra ele.

Utiliza-se de valores mesquinhos e das mais inventivas mentiras e enganos pessoais para os acusarem do que eles próprios seriam capazes, por expedientes que esses apedrejadores contemporâneos usariam se tivessem que se defender ou lançar mão para enganar. Por sua vez, o descuidado, geralmente por desconhecimento ou ingenuidade; por não conhecer o “modus operandi” ou como funciona a mente insana do psicopata humano covarde que se entende protegido em seu quarto, não raro utilizando-se de um “fake”; expõe-se desnecessariamente, ficando ainda mais desprotegido, gerando, ou armando esses escrotos insensíveis com munição suficiente contra si próprio.

Essa é a nova massa humana crítica, fruto da combinação do desconhecimento com o perigo do anonimato que a esconde e covardemente a protege do risco da dor física se mostrasse sua cara de sem vergonha.

Ao pobre desavisado resta o consolo de não ser uma celebridade, quando então seu calvário, ainda que visto em boa parte do país, materialmente, sofrerá as consequências apenas no seu reduto físico.

Digo que os verdadeiros vilões ainda não chegaram, entendo que aquele que conseguir dominar esse filão desregrado será o pastor do apocalipse.

Aquele que dominar a Legião Net formará o novo cristianismo, o novo islamismo, e dependerá desse os caminhos da massa maleável.

Se eles promoverão a mudança a tanto aguardada, ou serão o continuísmo; se selarão a continuidade apocalíptica a que aqueles que, muito distante dessa luminosidade artificial amarelada continuam a ela voltados e acreditando que, mesmo relegada ao esquecimento, em algum lugar, uma brasa mínima respira voltada à humanidade, aguardando um sopro que a avive e então algum caminho perdido possa ser retomado.

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Ao que se traduz da história, Jesus Cristo, Joana Darc, perseguidos da inquisição, judeus e palestinos, por exemplo, e alguns outros mártires alheios tiveram bem poucos defensores para fazer frente àqueles que a nada se apegavam a não ser ao ataque gratuito independentemente da direção a ser lançado. Algo que ocupasse suas vidas vazias, – indivíduos que, por desconhecimento, seguem a tendência das massas - enxergando suficiência em achacar os mais fracos e insignificantes, os “errados” ou contrários aos seus olhos críticos; compartilhando de execrações públicas até por diversão. Corroborando com atos infames da história que, absurdamente, teve, por diversas vezes mudada seu curso, justamente por conta de déspotas manipuladores que se aproveitaram oportunamente do poder que outorgava-lhe convenientemente, servir-se do estado gerado.

Uma crucificação, uma bruxa a ser queimada, um enforcamento, um apedrejamento, qualquer coisa servia para ocupar lhes a descarregar as ânsias de uma vida ainda embrutecida.

Ao ouvir um colega comentando sobre uma, de milhares de discussões que revolteiam nas redes enquanto revoltariam se pessoas de bem e ocupadas, delas tomassem conhecimento. Em um dos inúmeros insanos assuntos que hoje entretêm esses novos crucificadores, nesse caso em especial dizia respeito a duas mulheres, uma, mãe do Rian Brito, neto do humorista Chico Anysio, encontrado morto dias depois de seu desaparecimento e outra atriz global acusada de vender drogas ao rapaz. Voltou-me então a memória, após o relato de algumas barbaridades protagonizadas nem tanto por elas, mas por toda uma plateia desocupada, tornando-as assim simples objeto de discussão, jamais pessoas a serem auxiliadas; afinal, o que de realmente prático e útil restará a elas, agora tornadas joguetes, ou pior, indigentes sem valor algum a serem execradas, depois dessa exposição/execução? E aos seus executores? Qual será o provável resultado das cenas medievais de tortura psicológica que possivelmente sofreram, num misto de justificação e imaturidade, enquanto prostradas como rés, em seus modernos cadafalsos digitais que, embora não culminem às vias de fato, é certo que os estragos causados não são realmente dimensionados?

Comentei com minha esposa uma vez mais, sobre o não cair; o não se expor.  Pois os novos crucificadores, mesmo que não entendam levar uma vida de paranoicos digitais, insistem em fazer justiça com suas pobres palavras, tão pobres quanto pobres são seus espíritos. Não respeitando ninguém por desconhecerem significados do tipo que considere aspectos externos a si próprios, e, lançando mão uma vez mais da frase do Grande Mestre que sabia sempre a tudo responder, ou como contemporizar; quando disse sabiamente e há muito vem apenas ilustrando situações forjadas. No entanto serve também aqui, - e quem sabe por quanto mais servirá -; “pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”; e, o que choca, é o fato de todos se nomearem cristãos.     


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