sábado, 18 de janeiro de 2020

Carona oportuna



 “(...)
Mas chega uma época em que o mal é tão grande que as próprias causas que o originaram são necessárias para impedi-lo de proliferar; é o ferro que é preciso deixar na ferida, por temor de que o ferido expire ao se arrancá-lo”

“...Embora sejam necessários filósofos, historiadores e cientistas para esclarecer o mundo e conduzir seus cegos habitantes, se for verdade o que o sábio Mnemon me ensinou, nada seria tão irracional quanto um povo de sábios.”

“...O povo recebe os escritos dos grandes sábios para julgá-los, não para instruir-se. Nunca se viram tontos enganadores. O teatro pulula, os cafés estremecem com suas frases, que além disso são estampadas nas gazetas, os passeios estão coberto com seus textos e me inclino a criticar o Orphelin só porque o vejo elogiado por um imbecil tão incapaz de enxergar suas deficiências que mal pode sentir suas belezas.”

“... Se investigarmos a primeira fonte de desordens da sociedade, veremos que todos os males dos homens advêm bem mais do engano que da ignorância, e aquilo de que nada sabemos nos prejudica bem menos que o que acreditamos saber.”

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“A injustiça dos homens pune como crime a vontade de agradar quando essa vontade não tem êxito.”

Detalhes de uma das cartas
de Rousseau a Voltaire-p190/191
No livro
Voltaire – Cartas Iluministas
Zahar


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Como é fácil apoiar-se no que fôra dito. Pegar carona, no mais, oportunas, covardes, a espinhar um qualquer ou todo um estado na conformidade de aposentos tão manchados quanto! O acomodar conveniente do pusilânime valendo-se de grandes ideias de verdadeiros pensadores se aproveitando para enredar incautos de iguais índoles a dar crédito ao vazio semelhante sem jamais forçar-se a verificar que a verdade vendida há muito perdeu a validade justamente porque nossa cultura derivou para a máxima nefanda, amorfa do aceite oco.


Como um aí nascido não mais posso corromper-me; mas, ao final, qual deles dirão que não sou uno com isso tudo? Que sou mais um.



Como um único de nós poderá tirar a cabeça para fora e dizer; “não eu” se não temos uma única ordem não formada por nós mesmos?

Como, agora, retirar o ferro que estanca uma realidade outra, perdida, quando sabemos ao menos isso, que é justamente o instrumento que produziu nossa sociedade ulcerada que a mantem, minimamente, sob o estado de estertores esterção sem que sucumbamos totalmente, sem que este imenso corpo convulsione em infindáveis colapsos.

Não seria este o motivo sórdido do neo coronelato execrável; utilizar-se do vil expediente ao culpar seus parentes nepotistas que vagueiam entre breus de ébanos a nós desconhecidos o fato de não aliviar a dor, ao contrário; acochar com mais vigor os torniquetes!?!







É necessário estar muito bem acorrentado para transar de rato e perceber a verdade que no covil é mantida a ferros.




Homenagem a Raul Seixas

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