sábado, 25 de janeiro de 2020

Fenda




O pensador é um desocupado que observa o ainda imponderável no plano terreno, ao homem comum, à sociedade, aos status quo. Poderia suas ponderações ser comparada aquelas supermáquinas que perfuram a rocha para o avanço do progresso, mas então o rasgo inicial abrupto da matéria é muito superior ao que consegue o visionário – não possui tal força. Não. Seu pensar absurdo está mais para uma pequena nascente, um filete de água em meio à densa floresta que inicialmente sob o poder da gravidade, alheio, infiltra-se paulatinamente ao longo de centenas de anos de ebulição estranhas a si, quando, como se o tempo não existisse, uma pequena fenda é avistada. A partir de um ou dois indivíduos, alguns poucos rascunham o que pode significar à descoberta da mina em meio à esterilidade soberana; ou quando o veio é um fio de água pura originada próximo ou em conjunto aos esgotos fétidos e descuidados a céu aberto, aceito por todos os homens desprovidos de sede que desaprenderam o exercício do pensamento! Este pode permanecer por décadas camuflado sob os dejetos pesados que sufocam toda e qualquer forma de vida que inadvertidamente tenha a má sorte de ali obrigar-se. Este poço, após décadas, quando o progresso sob diretrizes amadoras que preferem a facilidade dos atalhos formados tudo aterram enterrando mínima chance de vingar outra saída que se atestará, fez falta ter sido trazida a tona somente agora quando a fonte desde sempre reservou aplicabilidade não fosse o aceitar fácil do pensar conformado.




“Quando se quer servir de mediador entre dois pensadores decididos mostra-se a sua própria mediocridade: é que se não possui vista suficientemente boa para distinguir o que é único; fazer igual, é a consequência da miopia.”


Friedrich Wilhelm Nietzsche

011.s cqe