sábado, 13 de junho de 2020

Direito de ficar calado







Se fossemos sérios deveríamos abandonar o termo “democracia”. Acredito que mesmo quando Hannah Arendt pela primeira vez pensou sobre este sistema político era tarde demais para ele, ao que nos parecem suas escritas, embebidas de boas intenções. Nem de longe posso afirmar quanto sabia ela sobre a falência da ideia maravilhosa gestada na Grécia Antiga, no entanto podemos concluir hoje que o homem agiu como um execrável padrasto oportunista ao herdar os cuidados de um varão nobre e um reino de oportunidades.




A famosa frase de Churchill “A democracia é a pior forma de governo, com exceção a todas as demais”, foi uma das expressões mais contundentes a tocar minha juventude com um “q” de revolta. Sempre a recordei, desde então, quando o tema se apresenta, e também, demorou a compreender porque insistimos com ela.





Tenho minhas certezas, que nada somam, entre elas defendo no meu reduto particularíssimo que a democracia já não mais importa; tornada obsoleta faz às vezes de uma matriarca cuja numerosa família honra apenas seu significado, quando muitos o fazem apenas por conta do rito.



O termo “democracia” alude à personificação de um rei imprevidente que avançou o tempo, que, folgado na sua instituição tão obsoleta quanto ilusória em um reino cuja existência plástica mantém as pessoas entretidas com sua presença em períodos exatos, correspondentes aqueles em que ditames são descritos por camaradas que sustentam a vendeta enquanto promulgam medias e leis de interesses nem sempre popular durante este folguedo monárquico e tantas outras distrações em que o povo é conservado.







A democracia foi transformada em uma franquia muitíssimo cara ao povo, e só. Mas entre aqueles que sustentam esta bandeira estão corporações escusas, os verdadeiros beneficiários em manter esta logo cintilando na mente daqueles que não tem poder algum.





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Sob um analisar bruto, não seria mais interessante ao iletrado o socialismo à democracia; ao menos aos primeiros, enquanto são esfolados, não são permitidas ilusões de ser alguém como são atraiçoados os milhões de alquebrados do segundo grupo, sempre levados a crer pertencer a um sistema inegavelmente mais justo?


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Mais falácias e distrações - Não deveriam sentir dor, remorso ou vergonha cada um daqueles que, seguros em seus domicílios empunham bandeiras democráticas e bradam expressões igualitárias enquanto detentores de posses e que confortavelmente reclinadas em nome da liberdade de expressão em verdade nada fazem para auxiliar as camadas a eles inferiores?




Ah! As convenientes e inumeráveis desculpas da estabilidade pessoal. Não somos um; somos todos. A partir do instante que cada um de nós atravessa a arrebentação da exaustiva luta particular, o olhar jamais deveria folgar-se na contemplação perene do mar aberto quando este idílio, comparado às ondas que até então solapavam qualquer investida, abriu uma vastidão de caminhos para oportunidades jamais sonhadas. Algumas destas marés o levarão a um navegar tranquilo e perene. Escolhido este navegar de cruzeiro; nem um momento apenas deve ser perdido sem antes pensar em todos aqueles que continuam presos ante a rebentação. 


Uma homenagem

À Annah Arendt




 

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