sábado, 19 de dezembro de 2020

“Esquisito”

 



“Ser diferente

é viver o constante questionar

em relação ao comportar-se

quando este envolve as diferenças

entre a sua realidade

e a constância comum

à maioria de nós, e daí:

buscar entender a

extraordinária natureza

individual de cada um.”

 



A palavra título deste texto não condiz exatamente com os motivos que me levaram ao exercício de hoje, ainda assim e porque um episódio marcou para sempre o pensar a maneira como me comporto que entendi natural aponta-lo como preâmbulo ao mote principal.





Dias depois de ser admitido em uma empresa prestadora de serviços, um guri de pouco mais de vinte anos - eu já contava quase cinquenta –, então colega de profissão, me chamou de esquisito. Sou o rei dos apelidos; tanto os crio quanto recebo – não relato isso com orgulho. Mas este, de um rapaz chamado Douglas que mais tarde descobri ser um cara boa praça; sempre me vem à mente.



Com certeza não tenho coragem de fazer uma declaração séria sobre minha personalidade afirmando com uma boa média de acerto que é assim que as pessoas me veem. Definitivamente não me arriscaria. Ainda que tenha certeza sobre as convicções que escolhi deixar a mostra para obter um mínimo de convivência, de interação, de coexistir social; volta e meia sou surpreendido por atitudes alheias, dando prova de que meu julgamento - que trago como bastante próximo de uma convivência harmônica - não tem se revelado aceitável em todas as situações; muito menos com uma série daqueles com quem preciso me relacionar diariamente.






Gostaria de parecer um “dois-de-paus” para todos, como dizia minha mãe sobre pessoas que não prestavam para nada. Mas preciso trabalhar, preciso sustentar minha família e, se não demonstrar um certo aguerrimento, comum as necessidades do ambiente, você é preterido àquele que se faz visível ao chefe. Neste ponto então me perco, precisaria apenas ser sociável e agir como todos os demais, porém existe uma ânsia medonha que não consigo aclamar, falando, gesticulando, opinando tão desmedida quanto desnecessariamente. Aí há a ruptura. Ora me mostro apático, querido, mas parecendo mal humorado; digno de dó. Ora um boçal arrogante aos olhos de muitos, ou seja; um cara esquisito.




A intenção destes apontamentos autobiográficos é questionar, jogar luz sobre o ser diferente. Quem consegue se manter seguro na sua personalidade ainda que o entorno cobre a igualdade!?! É claro que estou falando daquele que se arrisca ou por necessidade precisa conviver com tribos diferentes e não é o cara da vez a ter o saco puxado.




“Não é fácil entendê-los;

por sua vez,

a partir de determinado grau,

é impossível que nos entendam.”

 






Primeiro preciso esclarecer que não estou a falar com a classe marrenta, ou o birrento, o orgulhoso, ou aqueles que imitam seus heróis, seus ícones do
showbiz. Falo do homem lúcido, experiente, que conhece e chegou a maturidade por conta própria, dono de uma personalidade exemplar no que diz respeito a segurança de suas atitudes. O indivíduo que não quer o causar gratuito e não é uma cópia do que imagina ser; e soma a sua originalidade uma coleção – isto até é permitido – inteligente de comportamentos assistidos, agregados e necessários a todo homem distinto.



“Certos ‘esquisitos’ resistem,

entendendo que em algum grau

todos somos diferentes e;

mais importante:

temos o direito a nossa individualidade

desde que ela não invada o direito alheio.”


 

Por que estou insistindo nesta conversa vaidosa ou carregada de cores que parece remeter ao sujeito que busca um destacar aparentemente vazio? Primeiro que esta é uma leitura precipitada. Podemos ser devotos ao que quisermos; um pai exemplar, marido, ambos, professor e não jactar-se por isso. Ser e ponto.




“Somos críticos e a sociedade

é ainda mais crítica

com todo aquele

que entende ser esquisito

frente ao ordinário estabelecido.

De posse de uma consciência crítica

não concisa

é certo que o retorno ao rebanho

é inevitável.”

 





Mais importante e a síntese do exercício de hoje, é a singularidade. Ao longo do caminho somos confrontados com todo o tipo de pessoas e muitas estão mais preocupadas com o comportamento alheio que o seu próprio, e por quê? Elas estão adaptadas; não são motivo de observação por terem incorporado o que dita as convenções para as atitudes aprováveis à época, local, ou grupo. A maioria de nós, ao ser comparado aos esquisitos corrige a rota para que o adestramento faça efeito e a falha de ser notado como um diferente não mais apareça, mas alguns resistem, entendendo que em algum grau todos temos nossas peculiaridades e; mais importante: temos o direito a nossa individualidade desde que ela não invada o direito alheio.



Da minha parte entendo que o grande sentido da vida é amar a todos como iguais, porém conservando e defendendo nossas diferenças independentemente das pressões externas.

 

“Não maduro,

é quase impossível viver

algumas de nossas diferenças;

mantendo-as em relação

ao que convencionou

o senso comum.”




 
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