sábado, 4 de setembro de 2021

Primeiro Portal

 






Prostrado diante da força de portentosos muros de pedras parecendo esquecidos pelo tempo experimentei um misto de êxtase em meio a ânsia normal ao instante. A dúvida é a sensação maravilhosa a todo aquele que entende que o medo precisa ser substituído. No seu lugar, a segurança do eterno desconhecido.







Segui um muro sem fim que se distendia em direção às colunas maiores avistadas entre as brumas de mais uma manhã que prenunciava grandes novidades entre as expectativas que tentava em vão aplacar – minha imaginação incontrolável a ofuscar o agora que se esvai para sempre. Como moderar entusiasmos frente ao ineditismo?






A muralha apontava a um aglomerado com nove colunas que bifurcavam o acesso à frente do majestoso monumento. À primeira vista não parecia abandonado ainda que todo o conjunto, inequivocamente, não aludia à presença humana. Era obvio que a natureza intocada por todo o espaço comandava a organização das cores e tamanhos das espécies distribuídas em harmonia. As nove colunas se agigantavam a ponto de meu caminhar parecer ainda mais lento. A medida que avançava meus olhos não se detinha a nenhum ponto exclusivo. Tudo possuía; tudo era digno da mais demorada atenção – disparos incontidos. Novamente, vórtices de observação eram acionados e explodiam como fogos de artifícios aleatórios. Cores e sons se entrelaçavam entre habituais, esquecidos e exclusivos; nitidamente próximos, porém de difícil detecção. Intrigantemente indescritíveis. Preenchendo e atravessando todos os espaços ante a ouvidos congestionados a capturar sons impossíveis de serem dimensionados. Detive-me mais demoradamente às colunas - uma a uma -; cada qual encimada com sua figura específica. Efígies desconhecidas e dos mais variados aspectos - ou espectros? Indecifráveis. Sentinelas; titãs a observar todo o espaço/tempo muito além das sensações decifradas. Consegui refletir em um pequeno lapso que, Força; Convicção; Intensidade; Coragem; Soberania, adquiriam ali Significados Puros e Verdadeiros. Nove seres colossais; de grotescas e poderosas a sensíveis e atemporais nada lembravam nossas réplicas inanimadas.






Cada bloco de pedra, da base de sustentação ao pé das figuras traziam inscrições distintas e inclassificáveis. Sinais e ícones impressos que ao longe remetiam a traçados paralelos, quando próximo, se mostravam linhas intermitentes com padrões inegáveis ou o que a princípio pareciam pontos cuidadosamente esculpidos e distribuídos entre signos ao longo de duzentos pés ou mais. O conjunto de blocos da base cujos monólitos não eram inferiores a dez metros cúbicos cada um; se meus olhos não me traíram em uma ilusão de ótica: lentamente se inclinavam, convergindo para seu centro. Dispostos de forma que dois portões monumentais não fossem avistados senão antes dos dois últimos obeliscos, destacando-se do extraordinário átrio milimetricamente projetado que complementava o quadro e impossível de ser observado como um todo; projetados de forma que as perspectivas combinadas no processo valorizassem a distinção dos objetos que compunham a obra.






Outra obra extraordinária. O portão ricamente esculpido; entalhado em um misto de ferro bruto e madeira, na espessura de cerca de cinco pés. Reproduzia figuras e símbolos combinados a hieróglifos ricamente ornados a ouro, prata e cobre, e se lançava ao que pareceu ser construído com vinte metros de altura entre duas colunas majestosas; réplicas - porém não menos ornadas que suas nove irmãs que as antecediam.






Sentei em uma pequena pedra, para contemplar o espaço entre estas obras faraônicas, que se harmonizavam perfeitamente com a natureza local, a qual já havia me acostumado após atingidos quase três meses de caminhada neste reino até então desconhecido.






Seria esta fortaleza o destino final das minhas buscas naquele plano que parecia   estar abandonado, ainda que minuciosamente organizado? Até então não havia feito contato com viva alma. Seriam seus habitantes constituídos de material sensível aos meus olhos?






Atacado por alucinadores espasmos de vórtices plurais de energias; diante do portal, mais maravilhado que cansado, ainda que a ânsia vã fôra minimamente contida ao longo do caminho, não conseguia esquecer o que meu Mestre havia narrado...






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