sábado, 11 de setembro de 2021

Sobre os bastidores de um sumidouro






 


Havia pensado no meio da semana sobre determinado assunto para o exercício de hoje, porém ontem à noite assisti Crisis/2021 e mudei de ideia devido a dois instantes chaves de uma película, inicialmente despretensiosa, que acabou se mostrando excelente.






Não me é possível ler notícias. Por mais que, caso alguém prestasse atenção, ao me pegar com a televisão ligada na hora do noticiário ou com uma tela aberta a mostrar a página de um site de notícias; não deve se deixe enganar. Pouco do que ali está realmente interessa. O que faz com que esses flagrantes externos aconteçam então? Em um mundo injusto; há ações práticas que um velho precisa se ocupar e, portanto, uma ou outra informação que o valha pode dizer respeito ao homem desprovido de valor social. Afora um número minguado de filmes e ainda menor de séries; dificilmente estou dando atenção ao que está a mostra.






Estamos há dois dias de um evento que adquiriu importância muito maior do que os atores que o estão promovendo, pior: diminuindo-os ainda mais – como escrevi em algum lugar: “quem apoia essa patacoada do 7\09 não sabe nada sobre a História Humana, sobre o mundo, sobre politicagem... sobre nada”. Este, acostumados a um enredo chinfrim - posso me valer da mesma retórica ordinária e ditar que - somente estão em campo por serem donos da bola.






Poucos sabemos sobre como funciona o processo e ainda menos entendem o que realmente está acontecendo ou porque chegamos a esse ponto; esta encruzilhada intrincadamente não solucionável. No entanto toda revolução deveria ser válida contanto que se desse sob a tutela de causas verdadeiramente nobres - causas não mais possíveis no mundo atual.






Isto posto; na passagem de olhos a que ainda me obrigo diariamente em um site de notícias; alguém expos algo que poderia ter dito a um que outro que se atreveu a indagar sobre as manifestações do próximo 7 de Setembro: “tudo o que a física permitir pode acontecer” – dado o grau de estupidez envolvido no instante em si. Isto é; o prognóstico é impossível para qualquer um não ligado aos comandantes e politiqueiros oportunistas. O que sabemos nós, joguetes descartáveis; massa de manobra, que não temos mínimo acesso aos bastidores desse esgoto que foi transformado nosso Sistema Social.






Um apêndice para ilustrar o que prende minha atenção durante as zapeadas por entre as manchetes: da minha parte, a chamada do dia é? “No Japão; mulheres qualificadas precisam se submeter a subempregos”. Sem dar importância ao texto, da minha cabeça apequenada deduzo – e tento registrar como o faço aqui - que após o Me Too a situação delas ficou terrivelmente impossível se avaliarmos quadros corporativos masculinos cujo padrão é assediar toda e qualquer fêmea que lhe possa pagar um boquete.






O “sumidouro” do título remete ao universo medonho movimentado para manter drogas, no caso, opioides assassinos, circulando na veia social de uma América viciada. E o filme Crisis/2021 não usa meias verdades para esbofetear o status quo perfeitamente alinhado: em suas convenções, clubes e restaurantes icônicos exclusivíssimos enquanto a podridão do vício se acumula tragando novas vítimas, suportados por – no caso - imigrantes que nem de longe fazem referência aos milhares deles que realmente se arriscam procurando uma brecha para vencer fronteiras ao tentarem se manter vivos.






No filme Quanto Vale?/2021 é levantada a questão da burocracia infernal e negociatas governamentais amarradas em leis que atravancam órgãos que deveriam auxiliar em questões, mesmo as mais simples. No caso, rádios que funcionassem em todos os andares das Torres Gêmeas durante as atividades dos bombeiros quando alguns poderiam ter sido avisados sobre o colapso eminente.






Como disse no início desse exercício; dois instantes do filme magnífico da diretora Sara Colangelo remetem a uma filosofia do despertar humano - situação, ato impossível a qualquer um que esteja criando expectativas sobre o nosso absurdo 7 de Setembro - que se dará há dois dias desse exercício.






O primeiro momento a que me referi é mostrado na cena onde o professor Tyrone (Gary Oldman) depois de manter seu veredito não avalizando uma nova droga, contrariando assim o até então amigo e diretor (Greg Kinnear) da universidade em que trabalham; tem seu contrato suspenso por vias comuns onde os rabos presos, sempre rompíveis, mais uma vez é válido, e claro, útil, para extirpar o “mal” que mancha a corporação. E a segunda situação se dá quando o mesmo professor, é surpreendido em meio a uma espécie de julgamento que reúne a toda poderosa FDA, ele e a censurável indústria farmacêutica e, após uma conversa ao pé do ouvido entre alguém e o condutor do processo da FDA; o professor nem mesmo é ouvido. Então Tyrone parece entender; a ficha caiu. Finalmente foi acordando para o fato de que havia muito de mentira embutida em boa parte do universo humano que delineou seus sessenta anos de existência.






O mote entre os dois é a desistência do professor em assinar o relatório – após testes esclarecedores, porém conflitantes, contra a nova droga testada sob sua competência - dando aval a uma substância ainda mais letal de uma corporação farmacêutica poderosíssima que doa milhões de dólares, - agora se sabe, por motivos escusos – para a universidade, mesmo entendendo que perderá tudo ao dizer “não”; carreira, bens, reputação, continuando convicto de que é o melhor a fazer. Com a sempre mágica posição de câmeras; o diretor Nicholas Jarecki parece deixar claro, após a reunião do conselho da Universidade, quando o professor Tyrone tem seu contrato encerrado, que é justamente ele que tudo perde quem realmente ganha com a decisão – claro, uma bobagem em tempos de haters virtuais.







Não apenas no filme de Nicholas Jarecki; qualquer um pode perceber que existe um aparato colossal a dar suporte a Deep Society – a sociedade onde os invisíveis que torcem para o mocinho não têm acesso. A sociedade risível que é perceptível apenas àquele que já observou notícias demais. Entrar nas fétidas coxias sociais e ali permanecer qual viciado que vislumbra algo “melhor” apenas quando sob o efeito da sua escolha - que percebe ser arriscada tarde demais -, é o que mantem essa roda sinistra funcionando, e em raríssimas exceções: nem sempre se negar a avalizá-la o mantém anexado ao monturo.









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