Seguidores

sábado, 11 de outubro de 2025

Viúvos do entendimento

 






 


Ao nascermos, acredito, carregamos a gema do entendimento puro. À alguns poucos, de espíritos antigos, essa gema está protegida com camadas espessas construída ao longo de existências, portanto, mais resiliente aos ataques daqueles que encontrarão durante seu desenvolvimento fisiológico normal, no entanto à grande maioria de nós, a película que a envolve é finíssima, logo, serão convencidos ao sermão de que somos todos iguais — irmão por conveniência ou para que o grupo permaneça fortalecido; ao menos em força bruta — mais um discurso implantado bastante contrário ao verdadeiro sentido de irmandade.










Desprovidos de entendimento, obviamente não entendemos nada além do estado posto, e um ponto de reclamação recorrente nos grupelhos menos afortunados, ou seja, na maioria esmagadora dos elementos — o que não poderia ser diferente; foram arregimentados ainda imberbes e privados da verdadeira ciência — se dá por sua condição de estagnação e uma lição que não lhes é percebida para amenizar essa animosidade objetivamente aqui apresentada é: por uma série de motivos, não somos necessariamente obrigados a usufruir de todos os recursos à disposição, no entanto, se não o fazemos nós, deveríamos perceber que terceiros também tem seus motivos para não fazê-lo. Em outras palavras, se queremos a liberdade de escolha, deveríamos respeitá-la nos demais atores a nossa volta.  










Por exemplo, se moro no mato, no interior, tenho que assumir que moro no mato, então devo aprender que nem sempre por viver nas colônias deveria permanecer em constante contato com as florestas e os rios; em caso de não necessidade ou por uma conexão ininteligível. Não há porque viver caçando e pescando, por exemplo, a menos que os dois motivos acima aqui se encaixem. Bem como, àquele que mora no litoral, não significa, como o pessoal do interior ou das cidades altas entendem: que uma vez próximo à praia deveria ficar na beira do mar em constante divertimento ou contemplação.










No caso daqueles que conservaram algum resquício de sua “gema do conhecimento”, entenderiam que somos o que somos em qualquer lugar, e devemos observar onde estamos e ser agradecido ao universo sobre o instante vivido, se ocupando única e exclusivamente com o bem-estar próprio e, no máximo, da comunidade alcançável.










Ninguém em sã consciência, vindo da metrópole ou qualquer outro ambiente diverso à roça, sugere que o colono dê voltas despretensiosas em torno da plantação ou pratique um cooper ao longo da orla da roça de milho, por que não faz muito sentido; e se assistisse alguém o fazendo, deveria não se importar, como também não faz, cobrar aquele que fixou residência no litoral, insistindo que é um desperdício não agir igualmente aqueles que ali não moram e que, descendo vez ou outra ao nível do mar, entendem a maravilha ao diariamente caminhar com os pés descalços na beira da praia ou andar sem camisa ou com pouca roupa.

 



*





 

 

No seu lugar — Assisto em algum lugar qualquer uma senhora quase iletrada em longínquo cafundó esquecido e sem recurso algum, realizando o impossível para alfabetizar meia dúzia de mijões do vilarejo, até que algumas boas almas, muitos anos depois,  enxergam, naquela impossibilidade, um verdadeiro milagre de esforço a levar educação às crianças e a um ou outro adulto, então lhe oferecem recursos; esforçada e acima da média, ela estuda e se forma, inclusive com doutorado, e, a pedidos, migra para um vilarejo maior e com mais recursos a fim de realizar trabalhos parecidos ao chão natal; agora observada e elogiada. Quem poderá me dizer que essa senhora merece menos atenção que o maior ícone que circula nas mídias mundo afora?










Essa senhora não se resignou exclusivamente à roça, o que seria perfeitamente louvável e necessário; porém observou, ao invés de reclamar à sorte olhando para as pessoas bem vestidas da televisão; que poderia fazer um trabalho diferente sem nem mesmo solicitar ajuda de ninguém, oferecendo sua própria casa para o aprendizado de meia dúzia de crianças locais. Esse era o máximo dela, quem diria que ela não poderia fazer uma grande obra se tivesse às mãos, recursos permitidos aos grandes empreendedores. Ela tem o mesmo valor, apenas não teve os instrumentos adequados para tanto — é a intenção que valoriza a ação.

 



*





 


Jesus, testemunhando no Templo às ofertas que as pessoas depositavam no gazofilácio; observando a ação de uma viúva pobre que oferecera duas moedas à arca; chama seus discípulos e diz: “Em verdade vos digo que esta pobre viúva depositou mais do que todos os que ali já colocaram; pois todos o fizeram do que lhes excede, mas ela, ofereceu imbuída de sua fé e não do que lhe sobra" - Marcos 12:41-44

 








066.ac cqe