sábado, 20 de agosto de 2011

A utopia da igualdade


Se a busca é pela igualdade, o porquê da competição?

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Como vencer, como eliminar nossa velha e nata insegurança frente à comparação?

Sou simpático a sociologia, porém meu conhecimento sobre o desenvolvimento humano - embora pense que assistimos a situações que mesmo expressar-se utilizando “desenvolvimento” é tão inadequado quanto “evolução” - é limitado por vários motivos, mas imagino que isso não desabona minhas colocações que estão diretamente voltadas ou niveladas para esta faixa de conhecimento logicamente.


Desta feita, não me é possível precisar onde nasceu a competição. Há estudos que remontam já a idade da pedra, ao ler a teoria da evolução entende-se que mesmo entre seres tidos por nós como inanimados ou desprovidos de células que indiquem vontade própria, encontrará sinais que, para especialistas no assunto são tidos como pontos positivos em direção a competição interna.

Na história da humanidade temos demonstrações claras, e belamente ilustradas através das artes, monumentos, salões, palácios e cidades que foram notadamente erigidos; minuciosamente engenhados pensando única e exclusivamente na competição. Um homem ou um grupo deles buscando vincular seu nome ao colosso da vez que, inegavelmente, seria perpetuado através dos séculos.


Por outro lado, também positivo, temos que é através da competição, conseguida dentro de uma equipe, motivação suficiente, - uma vez inflada - para que os trabalhos subam a um nível de destaque, e em alguns casos, atinja mesmo a excelência.


No entanto, dessa pincelada extremamente rápida e exígua idéia, dado o volume de informações que busco prender a elas, temos ou vislumbramos a beleza material do feito, a evolução (aqui sim) invejável dos técnicos e principalmente a possibilidade inegável do material humano executor dos projetos.


Uso a expressão “material humano” de propósito; minhas buscas dizem respeito à essência, e afora a um solitário Van Gogh, por exemplo, todos os outros monumentos necessitam de duas ou mais cabeças, de quatro ou mais mãos para que sejam transformados em realidade, e aí então, não temos apenas uma pessoa em essência e conseqüentemente: a competição.

Na sua essência, é certo, que um apenas pensou a idéia, temos, ao contemplar a obra, esta idéia essencial prima, mas aonde mais cabeças pensaram, é certo que houve competição, e na mesma proporção de certeza, é possível julgar que esta não foi harmônica.


Poderíamos duvidar então que da idéia primeira, da idéia essencial prima que inegavelmente permanecerá para sempre vinculada a alma da arte exposta, ou esquecer que, somada a essa esteve presente durante toda a sua construção o gene da competição?

É certo, é uma lei quase natural e extensamente documentada: toda e qualquer idéia ao ser executada, ao ser posta em prática onde dois ou mais homens estiveram envolvidos, mesmo que veladamente, houve disputa.


Este aqui é o meu ponto. Tenho estudado o comportamento das pessoas há algumas décadas e nuances destes encontros não me passaram despercebido, é como se tivesse desenvolvido um sentido extra de leitura, de percepção onde tenho a noção exata das comparações ali existentes.

Na maioria das vezes entendo estas relações, após algum tempo de convivência, e a ilustro com a história do louco fingido, onde brincamos que, ao ter contato com uma nota de cem dólares ou algo de valor dentro do seu dia a dia ele nada faria no sentido de destruir este material.

Mas a questão não é esta, minha curiosidade reside na competição pura e simples, e na sua totalidade, burra; vou me repetir: disse pura e simples; sem propósito, sem ao menos uma pequena avaliação da real necessidade de seu por que.

Relatei a competição positiva, se é que pode assim ser. Era preciso entrar na mente de cada um destes e entender qual era o propósito ou a necessidade em jogo.

Esqueçamos isso, voltemos para o texto, e para a impossibilidade ou o porquê da impossibilidade de vencê-la.

Conseguiremos, haverá um tempo em que eliminaremos as comparações e trataremos as competições como uma luta, um ponto verdadeiramente positivo. Meu questionar diz respeito a uma competição passiva, consciente e coletiva, onde, por exemplo, buscaríamos construir a cidade dos sonhos, jamais imaginada, apenas com uma idéia coletiva, nata, pura de prazer, de satisfação em estarmos todos juntos na empreitada, de contentamento em estar pondo o conhecimento individual em prol do coletivo.

É possível que isto seja possível?

Nossa realidade, porém, é bem outra, e não é preciso ser sociólogo estudado para constatar. Não passamos de animais ainda lutando por um pedaço de carne, e a igualdade tantas vezes pregada não passa, não vai além ou não ultrapassa o muro do querer insano de nós humanos, tão propalado, entendido e utilizado negativamente; talvez esta igualdade que aí tremula, não passe da maior de todas as demagogias.

Ainda esta semana um amigo bem me lembrou o louco Nietzsche: “O único cristão morreu na cruz”, e isso pode também valer para todos os outros Avatares que temos notícia.

É impossível que uma boa idéia seja Verdadeiramente disseminada enquanto não a entendermos ou entendermos as expressões “comparação” e “competição”, tanto quanto a intrincada utopia anexada às idéias daqueles que buscaram eliminá-las.