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sábado, 17 de março de 2012

Porém... como saber quando...



... alguns se perguntarão


Parte de um dos diálogos do livro
“Quando Nietzsche Chorou”,
de Irvin D. Yalom,
entre Nietzsche e o Dr. Breuer.


(...)

- Pergunte a si mesmo, Josef: Você consumiu sua vida?

- Você responde a perguntas com perguntas, Friedrich.

-Você faz perguntas cujas respostas conhece – revidou Nietzsche.

- Se soubesse a resposta, por que faria a pergunta?

- Para evitar conhecer sua própria resposta.

Breuer pausou. Sabia que Nietzsche estava certo. Parou de resistir e voltou sua atenção para dentro:

- Terei consumido minha vida? Alcancei muitas coisas, mais do que qualquer um esperaria de mim: sucesso material, avanço científico, família, filhos... mas já passamos por tudo isso antes.

- Apesar disso, Josef, você evita minha pergunta. Você viveu sua vida? Ou foi vivido por ela? Escolheu-a? Amou-a? Ou a lamentou? Eis o que quero dizer quando pergunto se você consumiu sua vida. Você a esgotou?

Lembra-se do sonho em que seu pai presencia, impotente, rezando, alguma calamidade acometer sua família? Você não será como ele: impotente, lamentando a vida que nunca viveu?

Breuer sentiu a pressão aumentar. As perguntas de Nietzsche mexiam com ele; não tinha defesa contra elas. Mal conseguia respirar. Seu tórax parecia prestes a explodir. Interrompeu a caminhada por um momento e respirou profundamente três vezes antes de responder.

- Essas perguntas... você sabe a resposta. Não, não escolhi! Não, não vivi a vida que queria! Vivi a vida atribuída a mim. Eu, o verdadeiro eu, fui encaixado em minha vida.

- E isto, Josef, é, estou convencido, a principal fonte de sua angústia. Aquela pressão precordial... é porque seu tórax está explodindo de vida não vivida. O tique-taque de seu coração marca o tempo que se esvai. A avidez do tempo é eterna. O tempo devora e devora, sem dar nada de volta. Que terrível ouvi-lo dizer que viveu a vida que lhe foi atribuída! E que terrível encarar a morte sem jamais ter reivindicado a liberdade, mesmo em todo o seu perigo!

Nietzsche estava firme em seu púlpito, sua voz de profeta ressoando. Uma onda de desapontamento varreu Breuer; sabia agora que seu caso era insolúvel.

(...)

Trecho do livro de Irvin D. Yalom; QUANDO NIETZSCHE CHOROU, ediouro, 1992, p. 296/297.


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Faça realmente o que quiseres, com relação a estudos, carreira, trabalho, arte, lutas, etc. De uma forma ou de outra você sobreviverá.

Arrisque-se. Pague o preço. Pague pra ver. Mas com inteligência.

Pode apostar que o preço que irás pagar, por ter tido a ideia de chegar ao fim da vida, onde pelo menos os seus sonhos altruístas tenham sido tentados, é muito mais barato que aquele pago, por todos aqueles que não o fizeram, que nem ao menos tentaram. Com o único intuito de evitar seu próprio incomodo, não incomodando assim os seus iguais, a fim de conviverem em harmonia, em um meio onde (não) escolheu, ou escolheram por ele, e como prêmio: viver “amarrado”, confinado, sem liberdade, observando algo que com certeza não é seu.

Trecho do Livro de Amal Scheleschthing; CONVERSA!, todaletra, 2010, p. 103.



“Em alguma situação posso ser questionado sobre este trecho, entendo que de posse da mais sincera humildade posso também, me valer do trecho anterior para explicá-lo.”
Amal



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