sábado, 10 de junho de 2017

A democracia desmascarada



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Essas são verdades irrefutáveis e evidentes, que ninguém pode negar. Por que nos empenhamos, então — negando essa realidade —, em conservar o estado de coisas?

Porque o egoísmo e a indiferença são características dos cegos às evidências dos satisfeitos com suas próprias vantagens, que negam a desvantagem dos demais.

Não querem ver o que está à vista de todos, para assim manterem seus privilégios em todos os campos.
O que fazer diante dessa situação? A quem cabe agir?

E claro que o dever de agir é dos prejudicados. Mas eles, em meio às suas necessidades, angústias e tragédias, dificilmente têm consciência dessa situação objetiva, não a interiorizam, não a tornam subjetiva.

Por mais paradoxal que pareça — mas a história mostra que tem sido assim —, cabe a alguns daqueles que a vida pôs em melhores condições despertar os oprimidos e explorados para que reajam e tentem mudar as injustas condições que os prejudicam.

Foi assim que ocorreram as mais importantes mudanças nas condições de vida dos habitantes de muitos países, e estamos sem dúvida vivendo uma etapa histórica em que, por todo o mundo, há grupos de pessoas eticamente superiores que não aceitam como um fato natural a perpetuação da desigualdade e da injustiça.

Sua luta contra o establishment é uma luta dura e arriscada. Têm de enfrentar a resistência e a ira dos grupos política e economicamente mais poderosos. Têm de enfrentar consequências, com o prejuízo de sua própria tranquilidade com seus interesses individuais, abdicando de alcançar o chamado “sucesso” na sociedade estabelecida.
Hector Abad



Talvez devido a minha situação geográfica, sempre trabalhei a ideia de que deveria manter-me da forma mais independente possível, dentro da lei, sem atacar o estado vigente e assim sobreviver sem maiores dissabores de preferência apenas observando o que está acontecendo a minha volta; mais para uma melhor adequação ao último item, ao invés de usar isso como uma paixão ou transformar em ânsia de movimentar-me contra o sistema.

A organização sócio política do estado é superior a tudo e a todos, mas ainda que venhamos tentando uma união pragmática, enquanto o homem não entender o significado real de fraternidade não será possível que esta convivência transcenda o estado prisional lamentável em que coexistimos - ainda que ela insista na pregação de que somos livres e estamos por ela protegidos.

No contexto de Hector Abad, exatamente agora qualquer boa análise trás em seu bojo a impressão convicta de que alguns governos se estabeleceram – talvez por razões a nós nada precisas - como milícias oficialmente disfarçadas de democracia e que, se utilizam dos mais sórdidos argumentos tanto hipócritas quanto demagogos, tornados necessários, em extorsões sob os mais variados nomes: impostos, taxas, juros, e uma desavergonhada pitada de corrupção e mais leis para, sob o manto da obrigatoriedade da (sua) necessidade de manter-se assim atuando – aparelhada - afirmar que o achaque escamoteado é tão somente para defender interesses comum a todos.




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