sábado, 16 de outubro de 2021

Escasso elogio

 






Elogio; cuidado com ele. Elogios; há que se ter atenção ainda maior.

Como classificar os elogios; puros, honestos, sinceros, oportunistas, interesseiros, apreçados, velados, rasgados... quem, quando e onde foi proferido and so on.

Um conselho que não sai de moda é: não se preocupe com o que falam de você, mas quem está falando; ocupe-se então em conhecer quem o está elogiando.






Minhas semanas corriqueiras, jamais são monótonas. Faço todo santo dia as mesmas coisas, acordo cedo, executo uma centena de ações antes de sair. Higiene pessoal, remédios, gatos, cachorro, comer, máscara, ir e voltar do trabalho, por exemplo. Sou caseiro, então é casa-trabalho-casa. É raro uma parada na panificadora, geralmente o único desvio que me permito. Porém nem de longe minha vida é parada. Sou “bocaberta”, tipos como eu sempre estão metidos em polêmicas e aqui em casa meus afazeres não domésticos movimentam minha mente agitada, ansioso, não paro. Os gatos reclamam porque nunca podem sossegar no colo do pai.






Dentro da ordinariedade da semana que sempre está a apresentar novidades; esta me trouxe algo bastante inédito, um elogio que precisou ser analisado. Um colega de trabalho bastante fora do meu relacionamento profissional, por ser de outro setor e não trabalharmos na mesma profissão, do nada, contou que após minha saída de uma determinada sala onde se encontravam uma meia dúzia de pessoas ou mais, que o maior deles, hierarquicamente falando, “rasgou elogios a meu respeito”. Sou escamado com elogios e procuro filtrá-los ao máximo; mas este havia passado na peneira.  Opa! Aqui há algo a ser avaliado. Todos os dias as pessoas estão se cumprimentando e rasgando seda umas às outras, e isto é tão automático que de vez em quando nosso “egüinho” precisa de uma ou outra massageada; é sempre bom, e a despeito das minhas convicções, pensei não haver mal algum embarcar nesse, até porque tudo ficaria entre eu minha esposa e este cidadão.






Na hora, devido a determinado sujeito no local, o colega não disse o nome do chefe, apenas confirmei mais tarde; quando então ele surpreendeu mais uma vez citando o nosso momento atual – um dos motivos desse exercício - quando todos estamos mais atentos a apontar o dedo e esconder o que é bom nos outros. Ok! Pensei. Se este camarada não tinha nada que me contar ou bajular e o outro também é alguém que pouco me relaciono, é sinal que o elogio deve ser considerado.






Por que trouxe este assunto para o exercício de hoje? Por minha causa? Não apenas. Outro colega, este mais para amigo, o Rafael; nos conhecemos a mais de uma década e temos uma amizade sui generis, que não vem ao caso. Estamos sempre a compartilhar link’s afins. Ele, fã do Marcelo Del Debbio do Projeto Mayhem volta e meia envia link’s de vídeos de cerca de uma hora, de convidados que falam, obviamente, de interesses em comum ao projeto; e, sabendo da minha admiração por Raul Seixas, enviou-me o link da última entrevista com alguém que nunca ouvi falar, J.R.R Abrahão, que foi parte importante do último capítulo do Raul. Nem sempre assisto de imediato, em alguns casos demoro mais de uma semana para acessar, porém, como o título chamava atenção para a ligação entre os dois e fazer parte do projeto do Del Debbio por quem tenho muita simpatia virtual, – pois não o conheço - iniciei-o em um momento qualquer entre meus afazeres, sem maiores pretensões. Sei o que me interessa sobre o Raul, no entanto, sei o que diz respeito a minha filosofia de vida, e que era um incompreendido, seja por seus fãs e ainda mais por seus chegados, e o principal; o Raul é do bem, portanto, como minha opinião é polêmica: não é tudo que me indicam dele que aprecio.








A abertura, quando o entrevistado apresenta seu histórico, era o mesmo de sempre: o curso das buscas do convidado; bastante normal ao programa, afinal todos os entrevistados do Projeto Mayhem são ferras, mas o viés e, portanto, seu propósito, está bastante ligado a Magia e Ocultismo e já não tenho mais idade para aprender coisas novas, porém algo chamou a atenção. Não só o João Roberto se emocionou ao falar sobre o Raul, como a sua postura simples e centrada agradou. Sabendo, conhecendo e dissertando sobre suas buscas e descobertas, seu empenho, sofrimentos, paciência e resignação a falta de reconhecimento (em momento algum literalmente expostos); em meio a tudo ele se mostrava uma pessoa extremamente simples, comum, resignada, porém nada entregue. Em nenhum momento foi arrogante ou ensimesmado ou se mostrou orgulhoso, a não ser de sua desenvoltura altruísta e ainda aí foi comedido.






Que maravilhoso encontrar seres humanos centrados e senhores da não necessidade de se elevar aos demais. Este exercício então, é uma homenagem a estes; e repito aqui algo em que estreitamos nossos pensamentos e tem a ver com nosso dever ao respeito à vida: independentemente do reino, mineral, vegetal ou animal, não existe gênero, o que existe é um ser vivo que deve acima de tudo, não apenas por isso, ser respeitado.






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