sábado, 10 de setembro de 2022

Vultos e sombras – O massacre de Melilla

 































































Santos, não, somos humanos.

Considerados párias da humanidade.

Como qualificar a humanidade de vocês?

Quem são os santos da história?

Os “bandidos” inocentes ou os carrascos assassinos?

Somos mais uma amostra do que está ocorrendo.

O mundo ativo suplantou nossa existência.

Ninguém mais precisa de nós, mas nós ainda estamos aqui.

Em súplica dizemos o óbvio...

...somos mais do que um incômodo cancro social.

Ou seria, estamos muito além?


Meu corpo está quente e inerte. Sinto o sangue escorrendo. Não sei mais se estou vivo. Foram horas torturantes. Espero que tenha acabado. Imagino ser melhor não estar vivo. O que vier é melhor do que agora. Obrigações e necessidades nos afunilaram para esse vale. A hedionda “Valla de Melilla”. Meu triste histórico do passado permaneceu consciente até a escuridão total. Resisti por mais de três horas. Aterrorizado de medo ouço apenas passos agressivos e gemidos tétricos. Não consigo abrir os olhos mas percebo vultos e sombras rondando meu corpo. Sou apenas mais um na vasta lista de vítimas que todo dia sucumbem tentando entrar em outro país. Neste. Agora. Ao meu lado jazem 36 irmãos de jornada. O número não é oficial, porém é o que as autoridades permitiram aos jornais. Aos poucos tudo vai ficando em silêncio. Já não sinto o corpo quente. Será que o sangue parou de escorrer?



O massacre de Melilla - Dezenas de migrantes da África subsaariana foram massacradas em um evento absurdo perpetrado pela gendarmaria de Marrocos com o apoio da Guarda Civil espanhola quando centenas de pessoas tentaram cruzar a fronteira com a Espanha na manhã do dia 24 de junho de 2022 na divisa da fronteira de Melilla.


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