segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Do misterioso jogo dos textos



       Alguns textos significativos ficam ainda mais interessantes à medida que são lidos esparsos, pois à sua originalidade pura terá então agregada a do leitor, que se quer ou pode ser único, dando assim à ideia descoberta, alguns significados talvez, incomparáveis; espetaculares; quem sabe até: a correta (coincidente à do autor). Mas um princípio é imutável: é sempre uma leitura atenta e de inteligência culta que distingue; classifica leitores – as quais, alguns poucos as consideram: verdadeiros achados.

        Uma vez descoberto o significado, significa que o leitor acessou com sua, e somente sua chave, a porta de entrada ao texto, dando a ele o seu sentido muitas vezes tão dileto quanto à mente do próprio autor. E depende deste, tantas quantas distinções forem o número de leitores e suas particularidades que podem ser exclusivíssimas.

        E, em algumas situações niveladas, acontece uma espécie de mágica, porque os textos como dizem alguns bons autores: "a obra é mais importante"; e, a partir de então, entendo, que ao interpretar de forma prazerosa a escrita, o leitor deixa de sê-lo, e passa então a ser considerado uma espécie de co-autor do texto, porque, mais importante que escrevê-lo é, ao ler, descortinar algo significativamente novo – abrindo sua mente para a novidade -, esta deve ser a mágica intrínseca e que alguns leitores pinçam nos bons textos.  

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Jogando o jogo da tradução

Rolando Barthes dizia que o texto pratica o recuo infinito do significado. Não entrega fácil. Não há entrega, só luta, disputa. Mais esconde que facilita. Comissuras que sugam sentidos, deixam ranhuras vazias mas sugestivas. Textos são cheios de sugestões, só.

O texto é também dilatório, segundo o mesmo Barthes. Recuo e dilação. Um sempre para trás, para depois. O sentido se encontra logo ali, ali após. Após certo esforço, certa dose de sangue, certo trecho cruzando duramente o visco. Esse texto fluido espesso que se nega sempre, pegajoso, sempre quase como prestes a se solidificar para matar-te e a teus sentidos.

O texto tem que entrar pelos olhos, pelos poros, até fazer parte do tradutor. Para que o tradutor possa fazer sua parte do texto. Possa, digamos, dar sua contribuição.

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Parte do texto de Eduardo Ferreira disponível em Rascunho

http://rascunho.gazetadopovo.com.br/jogando-o-jogo-da-traducao/

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