domingo, 15 de dezembro de 2013

Descomunicação



 

Se não se está na mesma frequência, também aqui, há a estática
 
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Ah! Esta maldita facilidade que possuímos de falar.

Quanto nos prejudicamos, erramos, nos equivocamos, perdemos, ao falar!?!

Tenho conversado com Minha Sempre Bem Amada sobre a frequência de nossa comunicação. Até então utilizava a expressão “nível”, porém de uns dias para cá algo despertou para a expressão “frequência”, e não em relação à constância, entende, é disso que estou falando. Algumas dezenas poderiam levar para o ponto de que eu e Minha Esposa estamos falando frequentemente; com frequência ou não, ao invés de entender que estamos falando na mesma frequência. Parece simples, mas é complexo - ou digo isso apenas porque o quero!?!

O quanto estamos sendo julgados por frases, assuntos e questões corriqueiras que falamos apenas por falar, porque somos obrigados devido ao meio sem que mesmo pensemos a respeito, e mais; quantos ao nosso lado - externos à conversa - nos estão a julgar por ações, gestos e palavras que ouviram alheias, sem o devido contexto e então disso fazem juízo?

Voltando a frequência; estaríamos sempre, - ao nos comunicar – na mesma frequência do nosso ou nossos interlocutores? Quanto de nossa comunicação dedicamos a esta preocupação?

Quantos deles solicitam realmente uma explicação sobre o que não entenderam da opinião exposta! E quantos nada falam mesmo que interpretaram-na erroneamente – e o que isto realmente causa em nossa imagem!

Isto está se dando a todo momento, mais com quem pouco nos conhece, porém acontece também com os mais próximos.

Este assunto chamou-me atenção esta semana após a opinião de um senhor em uma conversa despretensiosa, à hora do almoço, sobre o tema da semana: a partida do nosso Sempre Querido Nelson Mandela (Freedom 4ever Madiba). Estávamos em três ou quatro pessoas.

O camarada comentou como seria bom ter vivido ao lado de Mandela. Convivido com um homem desta magnitude. Acrescentou ele que seria um homem melhor, quantas coisas, quantos erros deixaria de cometer, o quão mais reto seria se aprendesse direto do coração do Grande Líder os ensinamentos que lhe faltaram por estar entre os comuns.

Vamos esquecer a parte física da questão, pois ao menos eu não tenho preferência à África e muito menos ter estado ao lado de Mandela em alguns instantes nada fácil para ninguém; a não ser que tivesse eu algum poder para auxiliá-lo.

 O que chama a atenção, uma vez mais é - como sempre no meu caso -: o fator consciência. Deste modo, imediatamente pensei o quanto somos covardes. Até mesmo em uma situação inusitada como estas, procuramos as costas, mesmo que de um moribundo, para depositar nosso fardo de vergonhas; ora: e não é isso que o indivíduo está a falar? Não exatamente; mas dá pano pra manga.

Assim volto ao início do texto. Cada um interpreta o assunto que lhe chega a conhecimento, observando determinado entendimento particular que está diretamente ligado a sua frequência única de compreensão. Particularmente descambei para o lado fraco do humano desesperado, em fim de carreira, – o senhor em questão beira seis décadas – procurando distribuir suas misérias e aliviar a culpa cristã de final de vida. Já outro poderia concordar, e um terceiro argumentar apenas os aspectos ruins do ícone e assim por diante.

Ainda à mesa pensei a respeito da bendita consciência, afinal, se a pessoa tem certeza de que pode ou poderia ser melhor, que teria acertado mais em suas escolhas se optasse por um caminho que assiste no outro como correto, porque precisa apoiar-se no fato de não ter estado com ele como pretexto de não ter tido a chance de ser melhor como pessoa?

É claro que estou me aproveitando de um descuido de fala impensada de um tolo ignorante, mas é de se pensar!

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