segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

As ainda e intermináveis surpresas contraproducentes




Sentido e sentimento. Tudo o que faço, quando o faço por vontade própria, mantenho-me muito atento a estas duas situações; ainda que, quando queremos, quando desejamos de verdade. Quando sentimos que o poder da busca instalou-se, já não é mais necessário ficar atento aos detalhes, principalmente se estejam diretamente relacionados com o vulto maior, com o motivo principal da ação em curso somado a personalidade já afinada ao que convém.

Gosto de usar uma referência para ilustrar, e nestes casos é sempre bom mencionar a arte como exemplo. Boa parte da arte que visualizamos e que desperta emoções está diretamente ligada ao sentimento do artista. O cinema, a música, a pintura e mais raramente, o teatro; os principais, mas não únicos. Preciso fazer um aparte aqui, já percebi, e não foi apenas uma vez, que este sentimento pode ser passado durante o preparo de determinadas refeições também – significando que não é o fazer, e sim, como fazer. Provando que a arte supera a abrangência do nosso querer.

  Quando executo o meu hobby da escrita, - hoje a minha primeira distração quando não estou em família - penso muito, antes de discorrer meus pensamentos, antes de aspergi-los sobre o papel. Centenas de oportunidades batem nos escaninhos lotados do meu ativo cérebro que não descansa, porém é uma parte muito pequena que é mencionada, e aqui devo agradecer ao tempo, porque do contrário registraria muito do que alguns têm como temas que serve apenas para gastar papel, ou pior, fazendo-o quantitativamente. Se não é tudo que me assalta a mente que posso consignar, ainda há muito do que não o faço que mereceria uma chance de vingar – aqui entra o fator tempo.

Se não tem sentido e não posso colocar sentimento; porque de alguma maneira naquele instante não me tocou: não me interessa.

É certo que com algumas das palavras que frequentemente utilizo, busco vingar-me e vingar também um que outro leitor, ao atacar alguém que de alguma maneira praticou ações que vão contra o que para nós é considerado como sentimento nobre; e estas, invariavelmente, com uma carga extra de emoção.

  Apenas por esta janela, qualquer um poderia pensar que agora entendeu o que citei a pouco sobre “falta de tempo”, mas não se enganem, há tempos que iniciei uma luta ferrenha para separar o que faz mais ou menos sentido observar. Minha relação é muitíssimo bem ajustada para não cair na vala comum do relator ordinário, afinal, se analisar superficialmente, as hecatombes e descalabros humanos apenas deste início de século; não se requer estudo muito apurado para comentá-los.

Como já citei em outros momentos, a barbárie, o contra senso, a falta de discernimento, o desrespeito, as ações disparatadas tomaram um tal rumo de corriqueiridade que perdemos quase que totalmente – apenas nós que a tínhamos – a referência do que é certo, do que é correto, quando se quer observar uma convivência minimamente descente. Mas o problema não somos nós que assistimos ou somos vítimas a cada minuto. O absurdo está nos pequenos delinquentes (quanto a isso nada podemos fazer) ou grandes parias da sociedade, que veem no caos instalado uma oportunidade de ganhar uns trocados (e sempre o fazem), ou pior, se anula para que sua covardia seja vista em alguma destas telas que tomaram o planeta, ao vender-se como alguém são.

Preciso confessar que poucos textos que escrevi, antes de fazê-lo, pensei em sentimento. Sentido; sempre. Sentimento nem sempre. O sentimento a meu ver nasce do texto, ele vai surgindo conforme vou espichando as frases. Neste momento; nestas linhas é diferente. Gostaria que o sentimento se apresentasse. Sempre sou disperso a ele, afinal é ele quem comanda, então: quem sou eu para despertá-lo. Porém hoje eu o queria. Mas o desejo sem obrigação; o quero despertado pela condição do texto, do tema que escolhi e irei relatar.

Entendo que já estou passando da meia idade, e ainda que em meio a este quadro de calamidades citado a pouco que a todo instante nos surpreendem com notícias que, sabemos: muitos ao ouvi-la, perderam o chão; estou escolado. Minhas experiências e minhas observações, - e sou extremamente crítico, por isso pouco me passa alheio – me jogaram em um limbo de conforto. Vivo mal, observando o que observo e vivendo as necessárias obrigações comuns, mas vivo bem devido, principalmente, a algumas das minhas escolhas. E a experiência de vida já ajeitou a carga, que, se observada de longe, é bastante incômoda.

   Porém esta semana fui assaltado com uma daquelas notícias que, justamente, até então condenava, ao perceber nas ingenuidades parvoeiras de terceiros, quando totalmente surpreendidos. Minha crítica ligeira e muitas vezes impensada, logo que assistia a incredulidade dos afetados era: “como é que este ignorante não sabia que estava sendo enganado?”. Pois mais uma vez, e fazia algum tempo que ela não se apresentava, a surpresa do ignorante me atingiu. Esta semana li uma nota no jornal onde é apontado que ainda há morte de animais nos filmes americanos, e pior, mesmo com todo um aparato técnico, e tecnologias que dispensam os animais in loco, no filme como, “As aventuras de Pi”, por exemplo – existem mais na reportagem - o tigre, em determinada situação teve que ser içado da água quase afogado.

A nota termina apontando a American Humane Association (AHA), associação que acompanha todo o processo de fiscalização e responsável também, por incorporar determinada nota ou laudo final ao filme, formada por pessoas que se dizem protetoras dos animais; como coniventes com as ocorrências.

Quão parvo sou? Eu que sempre soube que apenas é nos mostrado, - quando é mostrado - uma décima parte, uma ponta mínima do mal praticado. Que é somente o mau cheiro de uma podridão inimaginável que podemos sentir. Isto tão somente, quando não podem eles mais suportar o dique de sujeira que estão encobrindo. Mais uma vez: paciência!!!

Estou aqui então não apenas assumindo a minha vergonha por acreditar que uma das minhas, hoje, maiores distrações; é, está e sempre foi corrompida também neste aspecto; os outros insistentes absurdos como: a vaidade presente no meio; a briga de foice que é manter-se entre estes lutadores com seus egos super-inflados e suas cargas de inseguranças e falta de amor próprio, e o mercantilismo, já haviam sido superados. 

Apesar de tudo isso, somos, invariavelmente, brindados com filmes emocionantes, mas também me perguntando, como, a que risco estarei exposto ao assistir um filme, e então ser surpreendido com uma cena violenta que, se já provocava um sentimento ruim quando ignorava; como será agora com a dúvida se o animal continua ou não ainda vivo?

 

Nota e reportagem sobre o caso em:



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