sábado, 21 de maio de 2016

Ostracismo existencial


“A característica fundamental da velhice é a desilusão. As ilusões que conferiam à vida o seu charme e nos instigavam a agir se dissiparam. A vaidade e o vazio de todos os esplendores do mundo, especialmente da pompa, brilho e ostentação, se fizeram por fim reconhecidos. Aprendemos que existe muito pouco por trás da maior parte das coisas desejadas e dos prazeres pelos quais se espera. Gradualmente conquistamos uma visão mais penetrante da grande pobreza e vacuidade de toda a nossa existência. Apenas quando se tem setenta anos de idade é que se pode compreender plenamente o primeiro verso do Eclesiastes ‘Vaidade das vaidades, tudo é vaidade’, mas é isso também que dá à velhice um certo toque de rabugice e mau humor.”

Arthur Schopenhauer

N’O Livro das Citações – Eduardo Giannetti

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Sobre o nosso supostamente conveniente ostracismo existencial antecipado – Me ocorre também, ao ler a observação do Mestre Schopenhauer, que podemos assentir, ou arriscar uma nova inserção ou mesmo, com todo respeito ao filósofo do realismo, uma atualização temporal; uma contextualização: que uma vez tornada “natural" em nós a implantada precocidade prática, também aqui vitimou-nos, quando já atingimos um grau de distanciamento ou descaso à vida antes mesmo de entender sua aparente “vacuidade ou grande pobreza”. Nós, seres humanos, por agora, temos isso em alta conta, desistimos por adesão - hoje, muitos de nós, morremos antes de morrer -, e, ainda que isso se devesse – por motivos que aqui não cabem -, o fazemos como uma espécie de atavismo, ou seja, não raro escolhemos que seja o que seja sem mesmo entender os porquês.

E, se não somos ainda rabugentos nesse período púbere de saber, - quando somos tocados e conduzidos sob o comando de “n” propostas alheias - isso se deve, não por termos finalmente aprendido algo sobre a mansidão, mas por obrigatoriamente termos acatados com todas as forças a passividade mórbida terceirizada do: existir assenhoreado; onde, trocamos aquela, por conta de uma soberba humana sem poder algum, jamais imaginada.


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