sábado, 7 de maio de 2016

Um plano mais razoável



Talvez fosse possível alcançar ainda aqui o mundo perfeito, porém, essas paragens, o agora como morada física, não foram construídas para esse fim. Seria quem sabe, por conta dessa observação que não nascemos dotados da “inércia” [i] para o depois; para o devir; para a transcendência – seres seguros e autoconscientes de que a paciência quando atingida, muda, transforma-se inequivocamente em segurança e confiança insuspeita, filhas do conhecimento. A paciência por si só, despertada sua importância: é ainda uma doutrina, uma espécie de exercício àquele que a busca, mas inexiste; é incorporada e torna-se invisível[ii] uma vez assimilada.

Fomos tornados afoitos para o agora; qual o motivo real da consciência ou, traduzindo na nossa linguagem, a existência do aqui/agora? – Ou fazemos demais e ainda que não seja um tempo perdido, pouco é aproveitado ou, partidários da indolência, fazemos de menos e então encalhamos duas vezes; quando a perfeição reside no existir; no fazer consciente.

Uma das respostas é: para que fossem adquiridas habilidades, desenvolvimentos únicos enquanto habitantes da Terra, portanto, presos a um corpo físico – apenas uma resposta, mas suficiente o bastante (ou mais que suficiente) para jamais questionarmos nosso coexistir temporal com a matéria.

De posse dessa inconsciência ou, não adquirida essa ciência, nós percorremos existências, voltados tão somente à observação da posse material, influenciados por sociedades que nos desvirtuaram da essência ou do que era para ser essencial aqui.

Pregando, legislando, afirmando; incubaram na mente humana que não há motivos para a introspecção, ou, que voltar-se antes para a interiorização e daí para a sociedade, (sempre essencial aqui) não existirá a evolução do homem como homem-material-econômico-possuidor, algo tornado valor e diga-se, também importante. Porém não poderíamos ter relegado a interiorização - o desenvolvimento do ser humano altruísta, possuidor consciente dos mínimos valores - em detrimento à transformação do bem exterior em valores que superam o que será sempre essencial ao indivíduo: ele como essência. Algo então foi invertido; quando não mais a família vem antes da sociedade. O trinômio Família>Indivíduo>Sociedade jamais deveria ter sido desrespeitado; por conta da continuada observação à importância e à individualidade (buscando a evolução una e individual conjunta) de cada um desses grupos à custa de fortalece-los individualmente quando a resposta da soma de seu pares jamais seria a dispersão hoje assistida.

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Os defensores do humano-material-econômico insistem que uma vez partidário da introspecção, ou de, apenas como exemplo, filosofias que remetem ao ascetismo, ao epicurismo e a vida contemplativa; em suma, um existir mais voltado à teoria: “a vida humana se tornaria tão vazia de sentido que as pessoas teriam que ser redesenhadas biológica ou psicologicamente, e, cedo ou tarde, haveria a necessidade de lhes implantar a necessidade de afirmação pessoal ou mesmo sugestioná-las à importância do poder, quando suas existências não passaria de um passatempo inocente e superficial. Voltadas apenas ao desenvolvimento de habilidades manuais ou intelectuais; psicologicamente frágeis, treinadas, fiéis, conformistas e dóceis”. No entanto, é preciso que pensemos – justamente o que inúmeros detratores fingem ignorar – é: no que a grande maioria da população difere dessa descrição hoje – e para sempre assim aqui será! Justamente no ponto onde, transformadas algumas das expressões anteriores: desvirtuou-se, totalmente, o humano de sua essência. 





[i] Encontrei dia destes mais um de tantos textos que questionam a vida perfeita neste plano, que também fazia (de forma confusa ou desavisadamente) referência ao fato de o ser humano, uma vez voltado ao estado de contemplação, obrigatoriamente entrar no estado da conhecida inércia nociva, natural a todo aquele que encontra, sem o devido preparo, um regime de sossego - o oposto da estabilidade física, moral e psicológica; condição natural ao indivíduo que alia paciência e sabedoria a passagem terrena - e faz dela, desavisadamente, uma nefasta zona de conforto. Não necessariamente devido ao conforto propriamente dito, - isso se dá, em condições normais, por conta do despreparo aliado ao comodismo e a indolência nascida da inobservância do conjunto como um todo. Nem sempre são confortáveis as posições que nos encontramos neste plano, mesmo àquelas que assim nos parece quando olhadas a partir do externo, independentemente da distância. 


[ii] Tudo o que é assimilado; alcançado: é tornado o que é e então deixa de existir.
(nesse caso o texto faz referência à paciência que ao ser inserida no ser como essencial torna-se parte da doutrina desenvolvê-la, e uma vez feito, ela desaparece por ser uma condição normal ao ser, exercê-la. Não mais a percebendo, o ser paciente apenas segue, sem ânsias, mesmo a ânsia faz parte desse não existir, ele apenas segue sem essas necessidades porque nem mesmo a necessidade existe)

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