sábado, 9 de junho de 2018

Antes das convulsões (parte II)



Se por um lado vivemos tempos de descrença a respeito de pessoas conselheiras, por outro nunca fomos tão refratários à palavra que aconselha, que observa, que pontua ações que desviam colegas, irmãos, amigos de um caminhar menos digno.

Se por um lado nos assenhoramos de posições que acreditamos ter direito apenas por entender que elas existem em próximos que as conquistaram com louvor, por outro desconhecemos e pouco nos importamos se a dominação que exercemos sobre o pequeno burgo; a pequena rede social em que esbravejamos, não é, por si só, salvo-conduto para saltos verdadeiramente ousados na sociedade real.

As correntes mais diversas insistem na polarização; isto é o inverso de uma das forças filosóficas mais antigas que conhecemos: o equilíbrio. A luta imemoriável em busca da comunhão entre as pessoas, o ajuste, o entendimento, e porque não, a sociedade.

Ao mesmo tempo em que nos parece paradoxal que há anos o mundo se vanglorie e comemore o que chamamos de conquista da globalização, é de uma ambiguidade estupenda que em tão pouco tempo a palavra de ordem, e não sem uma aura de animosidade; nosso enroscado desenvolvimento grita justamente o contrário: à divisão – em forma de polarizações a toda ordem.

Tudo muito bem demarcado, limites, fronteiras. Direita; esquerda. Sul; norte. O bairrismo, o sentimento ainda mais desconhecido de patriotismo retorna da pior maneira possível, sob o asco da reles política. Do partidarismo. Enquanto, justamente, suas vítimas são fabricadas do desconhecimento, lançando mão do pequeno escravo da vaidade que se entende erradamente, e inadvertidamente, senhor de si, sob alcunhas pomposas como: indivíduo, dignidade, empoderado...

Inversamente, recolhem-se, aqueles poucos que muito observam e estudam. Os conselheiros, se já não precisam ser ouvidos, quando bons, não buscam falar. Entendem que tanto o verbo quanto sua verbalização é Sagrada e precisam ser respeitados quando ainda resta um mínimo de essência nesse querer.

Assim, se por um lado, daqueles poucos conselheiros remanescentes existe um número ainda menor deles realmente dispostos a falar ao público a antiga língua do equilíbrio; ainda se deseja que menos isso aconteça entre a maioria esmagadora, refratária às velhas escolas. A globalização talvez tenha nos aproximado de tal maneira, entrando em nossas vidas inicialmente como um presente, onde a tão esperada união dos povos finalmente tivesse sido alcançada, quando, ainda é cedo para afirmar, ao final – em verdade - esperamos não ter recolhido o cavalo de Tróia para dentro de nossos muros, onde o inimigo, antes verdadeiramente polarizado, está agora, mais próximo do que nunca.

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