sábado, 26 de fevereiro de 2022

Estranho aos seus

 







Há um distanciamento natural e ampliado à medida que o grupo desiste da busca iniciada; aqui, o conhecimento distancia o homem. A cada dia mais o que busca se torna incompreendido e incompreensível, porque seu investigar, sua ânsia, uma vez que não cessa, provavelmente o fará ser visto como diferente ou ser analisado sob a régua viés à idiotia empaliada, estacionária, inativa, estática, cristalizada, daqueles que antes eram seus pares. Sartre aponta que “o mesmo ocorre com a leitura: os indivíduos de uma mesma época e de uma mesma coletividade, que viveram os mesmos eventos, que se colocam ou eludem as mesmas questões, têm um mesmo gosto na boca, têm uns com os outros a mesma cumplicidade e há entre eles os mesmos cadáveres. Eis por que não é preciso escrever tanto: há palavras-chave”, o que chamo de “algoritmos” a aglutinar informações comuns ao grupo.



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Na mesma página - Sobre as observações de Sartre, avalio que a leitura somente é possível àquele que fala a língua dos homens, isto é, do leitor acostumado ao viés, ao contexto da ordem do dia. Ao aí se manter, inserido em seu pseudo entendimento restrito/limitador, o leitor não mais alcança a evolução de significados e representações cujo autor insistiu em continuar pesquisando, praticando e trabalhando.

 

Compilado do livro de Jean-Paul Sartre "Que é a literatura?"

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