Ao escrever um texto denso, em algum ponto se faz presente a linguagem poética, então nos vêm à mente que, em muitos casos a poesia é preferível à dissertação corrida. Criativos e abrangentes, os poemas são de mais fácil assimilação; sempre simpáticos, descompromissados e, portanto, mais acessível; como também, a construção abstrata foge às muitas regras de difícil trato no texto em si. Sua não convencionalidade desobriga leitor e autor, deixando-os livre para (re)criar, tornando o admirador, um coautor inventivo, transformando o que lê em propriedades exclusivas e divagações únicas, e essa generosidade do autor/criador que a princípio pensou em si o fato de pincelar com maior facilidade palavras desconexas; torna a alguns poucos que leem, um exercício de imaginação inventiva ímpar e a uma centena de outros tantos, devaneios singulares autorais, tocando esses que passariam ao largo de um script enfadonho, convertendo um avistar distraído em um momento lúdico, em um experienciar pessoal autoral, trazendo-lhes a alegria volúvel do atemporal, porém, transformando por um breve momento o estado de espírito de todo aquele que à obra se detenha.
*
Ode à Poesia
O texto é o
texto
Poesia são
poesias
A
singularidade do primeiro
A pluralidade
da segunda
O primeiro e
fechado, restrito, até egoísta
A segunda é
aberta, livre, generosa
O hermetismo
do primeiro condensa o pensar
A liberdade
da segunda desestabiliza e amplia
O primeiro se
quer inteligente e busca alguns pares
A segunda é
solta, livre, indiferente, e pode nada buscar
No primeiro,
conexões concisas
Na segunda
pontas soltas na brisa
No primeiro,
pontos e vírgulas
Na segunda
tudo é aleatório
O primeiro
prende ao enredo
A segunda
liberta à divagação
No primeiro,
senta-se sob uma lâmpada
Na segunda à
relva sob brisas e sons
O primeiro te
faz preso ao pensamento terceiro
A segunda te
liberta a congraçar com a graça
O primeiro
pode ser denso, amarrado e sempre regrado
A segunda
pode que seja pautada, porém, é sempre bela
O primeiro se
obriga à mesa
A segunda na
doçura de um tacho
...
Homenagem a
Cora Coralina
059.ac cqe