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sábado, 20 de setembro de 2025

Aceno à poesia

 








Ao escrever um texto denso, em algum ponto se faz presente a linguagem poética, então nos vêm à mente que, em muitos casos a poesia é preferível à dissertação corrida. Criativos e abrangentes, os poemas são de mais fácil assimilação; sempre simpáticos, descompromissados e, portanto, mais acessível; como também, a construção abstrata foge às muitas regras de difícil trato no texto em si. Sua não convencionalidade desobriga leitor e autor, deixando-os livre para (re)criar, tornando o admirador, um coautor inventivo, transformando o que lê em propriedades exclusivas e divagações únicas, e essa generosidade do autor/criador que a princípio pensou em si o fato de pincelar com maior facilidade palavras desconexas; torna a alguns poucos que leem, um exercício de imaginação inventiva ímpar e a uma centena de outros tantos, devaneios singulares autorais, tocando esses que passariam ao largo de um script enfadonho, convertendo um avistar distraído em um momento lúdico, em um experienciar pessoal autoral, trazendo-lhes a alegria volúvel do atemporal, porém, transformando por um breve momento o estado de espírito de todo aquele que à obra se detenha.









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Ode à Poesia


O texto é o texto

Poesia são poesias

A singularidade do primeiro

A pluralidade da segunda

O primeiro e fechado, restrito, até egoísta

A segunda é aberta, livre, generosa

O hermetismo do primeiro condensa o pensar

A liberdade da segunda desestabiliza e amplia

O primeiro se quer inteligente e busca alguns pares

A segunda é solta, livre, indiferente, e pode nada buscar

No primeiro, conexões concisas

Na segunda pontas soltas na brisa

No primeiro, pontos e vírgulas

Na segunda tudo é aleatório

O primeiro prende ao enredo

A segunda liberta à divagação

No primeiro, senta-se sob uma lâmpada

Na segunda à relva sob brisas e sons

O primeiro te faz preso ao pensamento terceiro

A segunda te liberta a congraçar com a graça

O primeiro pode ser denso, amarrado e sempre regrado

A segunda pode que seja pautada, porém, é sempre bela

O primeiro se obriga à mesa

A segunda na doçura de um tacho

...


 





Homenagem a Cora Coralina




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